Cinco motivos contra a resolução da cadeirinha

Ok, este blog é primordialmente sobre cultura. Mas como a exceção é também um ato de resistência cultural, começo fugindo da pauta para falar de crianças, cadeirinhas e poder público.

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Por Redação
Atualização:

A implementação da resolução do Conselho Nacional de Trânsito que obriga o uso de cadeirinhas para carros por crianças de até sete anos e meio suscita muitas dúvidas sobre a inteligência de quem a está aplicando. Sou absolutamente favorável ao uso de cadeirinha por crianças, mas absolutamente contrário a essa resolução. E sobretudo à maneira que o jeitinho brasileiro se aplica a sua implantação e fiscalização. Dou cinco motivos para defender minha posição.

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1) Essa é uma resolução que passa ao largo de uma questão econômica. A cadeirinha é um item muito caro para exigir da população sem nenhuma contrapartida do Estado ou exigência para as montadoras.

Não fiz uma pesquisa profunda, mas usando três sites diferentes de compras online e comparação de preços (Buscapé, Bond Faro e Mercado Livre) constatei que a cadeirinha mais barata saia por R$ 89,00. E não serve para bebês. Das para bebês, a mais barata custa R$ 140. Cadeirinhas de marcas realmente boas não são vendidas por menos de R$ 500 em São Paulo, algumas batem a barreira dos R$ 1.000.E aqui não vale o fetiche pela marca. Marca boa quer dizer segurança e conforto melhores, o que você procura na hora de comprar um equipamento que é, no fim das contas, de segurança. Mesmo considerando o valor de R$ 90 como o mais baixo, é bastante caro para o grosso da população brasileira, ainda que se considere só a parcela formada pelas pessoas que têm carro.

Se a cadeirinha passa a ser um item que têm de ser usado, é justo que o Estado subsidie para as pessoas com menor renda. Ou, se esse raciocínio parece esquerdista demais, tire o Estado da jogada e empurre a conta para as montadoras. Carros têm de vir de fábrica com regulagens de cinto diferenciadas para atender crianças maiores e acentos assentos para crianças pequenas.  Dessa forma contorna-se um problema da resolução que é ser, ao fim e ao cabo, elitista. Ou é coincidência o fato de as blitze se concentrarem em bairros pobres?

2) A permissão para colocar a cadeirinha no banco da frente.

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Quem já comprou uma boa cadeirinha sabe. Todo fabricante sério coloca uma advertência para não instalar as cadeirinhas no banco da frente, por conta dos riscos de acidente. O Contran, tão preocupado com a segurança das crianças, propõe essa barbaridade para quem tem três filhos ou mais. É quase uma norma malthusiana.

3) Táxis estão livres da obrigação do uso da cadeirinha.

Nas blitze do feriado, os policiais apreendiam os carros de quem não estava com cadeirinha e orientavam os passageiros irregulares a pegarem um táxi. Ah, entendi a diferença. Táxi não é carro. Ou será que o lobby dos taxistas é mais forte do que o da cadeirinha?

4)  Idade versus altura

Quando falamos de cadeirinha e segurança, está implícito que se trata de um problema de física. A cadeirinha protege aqueles que não têm tamanho para usar cinto de segurança. Não seria o caso de fazer um corte por altura e não por idade? Ia achar divertido ver policiais trocando os cacetetes pela fita métrica.

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5) Mais um espacinho para a cervejinha do guarda

Sete pontos na carteira e multa de R$ 191,74 reais (mais cara do que o preço da cadeirinha furreca) são um prato cheio para estimular a corrupção policial. Ops, esqueci da presunção de inocência da polícia. Estamos na Suíça, e a polícia tem um longo histórico de idoneidade.

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