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Opinião|Fogos e pets não combinam

Quem tem um pet não vê beleza nos fogos de artifício por um simples motivo: seu cão não passa imune ao barulho. Grande parte dos cães e gatos fica assustada. Muitos fogem - há casos também de atropelamento. Sem falar nos cães de rua.

Atualização:

A Ella (minha sócia pet no blog e Guia Pet Friendly) sente medo, levanta as orelhas e fica alerta. Apesar de ela não demonstrar desespero, sei que não está confortável. Eu busco reagir com naturalidade e mostrar que está tudo bem.

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O movimento

Em março de 2021, no Rio de Janeiro, foi criado o movimento #RioSemEstampidos que sugere o uso dos fogos silenciosos em prol da conservação do meio ambiente e saúde dos animais de estimação e silvestres, autistas, bebês, idosos, enfermos e pessoas com hipersensibilidade auditiva. 

O movimento pede que o poder público crie uma lei proibindo a utilização dos fogos tradicionais. Essa substituição resolveria 80% do impacto causado, pois a redução de ruído é expressiva. "É um problema social muito sério e totalmente evitável que visa proteger a saúde de todos e o meio ambiente", salienta a arquiteta e radialista Adriana Cassas, que está à frente das reivindicações. 

O movimento carioca conta com apoio de ambientalistas e da classe médica veterinária, que enxergam a mudança como um ato de saúde única. A professora da Pós Graduação da Fiocruz e membro da Ceua da UFRRJ Norma Labarthe alerta:  "A pandemia de covid-19 nos obrigou a reconhecer a gravidade do dano que causamos a todas as formas de vida deste planeta. Quando veículos deixaram de circular, os céus voltaram a nos mostrar aves incríveis, as estradas ficaram cheias de animais terrestres e o mar cheio de vida. "

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Ela também pontua as centenas de atendimentos a animais domésticos ou selvagens, após o disparo de estampidos. "Sou absolutamente favorável à modernização de nossas comemorações".  

Cão desaparecido

Na madrugada de 19 de setembro, a border collie Lagertha dormia no quintal da sua casa quando escutou o estouro de fogos de artifício. Desesperada, escalou o muro de três metros de altura e correu até o Leblon, onde foi vista pela última vez. Sua família tinha consciência do seu medo e nas datas e ocasiões em que os barulhos aconteciam, a deixavam ficar dentro de casa. "Ela nunca havia fugido, não imaginei que poderia escalar o muro. Os fogos foram no meio da madrugada, não esperávamos", conta o estudante de psicologia Pedro Roxo Py, tutor da cachorrinha desaparecida. Ela ainda não foi encontrada.

 

 

Lei aprovada e projetos tramitando

Em um país como o Brasil, onde 53% dos lares possuem cães e gatos (dados Radar pet 2020 -SINDAN), a necessidade de legislação sobre o tema é inevitável. Vide a Lei Municipal 16897/18 do vereador Xexéu Tripoli, aprovada em maio de 2018, e a Estadual 17389/21, em julho de 2021, dos deputados Bruno Ganem e Maria Lúcia Amary, ambos de São Paulo, que proíbem os fogos barulhentos. Confira o que a lei municipal determina: "Ficam proibidos a queima, a soltura, a comercialização, o armazenamento e o transporte de fogos de artifício de estampido e de qualquer artefato pirotécnico de efeito sonoro ruidoso no Estado de São Paulo. Os fogos de vista, assim denominados aqueles que produzem efeitos visuais sem estampido, estão excetuados das proibições".

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Embora na prática ainda se ouça os fogos em dias de jogo, nota-se uma diminuição nos ruídos com a legislação. "Os paulistas estão dando um exemplo de como legislar a favor da vida", ressalta Adriana.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

No Senado, há o projeto do senador Fabiano Contaratto. O Rio de Janeiro, que tem o apoio da Comissão de Direitos Animais da OAB/Rj,  encontra-se na fase de discussão com a Câmara Municipal. "Uma comemoração tem que ser feliz para todos. A Holanda discute a proibição total dos fogos. A Olimpíada de Tóquio foi com drones. A criatividade e o talento humano não têm fim, basta que sejam usados para o bem coletivo", defende a advogada Andrea Cassas, que também faz parte do movimento.

Novos tempos

A consciência social, a preocupação com o meio ambiente e também a presença dos pets como integrantes da família brasileira provocam que a indústria e a sociedade se adaptem aos novos tempos e assumam os fogos silenciosos, mesmo sendo mais caros. "As pessoas não imaginam que possa haver um espetáculo lindo com soluções mais sustentáveis, como drones e fogos silenciosos", pondera a empresária Miriam Cassas, que é mais um braço do movimento. 

Opinião por Cris Berger
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