Digo isso para admitir que não tinha nenhuma grande expectativa em relação à mesa com a cubana Wendy Guerra e a chilena naturalizada brasileira Carola Saavedra, que aconteceu logo em seguida. Para começar, porque achava frágil o critério que as unia, sob o tema "Cartas, diários e outras subversões" - o fato de tanto o livro de Wendy Guerra lançado neste ano no Brasil, Nunca Fui Primeira Dama, quando o mais recente de Carola, Paisagem com Dromedário, recorrerem a fragmentos de histórias narradas de outras formas, como áudio (nos dois livros), cartas e diários (no livro de Wendy).
E também porque, vamos combinar, a mesa foi marcada justo para domingo à tardinha, último dia de Flip, logo depois do almoço, em pleno Dia dos Pais, com um solzinho convidando para uma cerveja de despedida...
Um mediador pouco preparado poderia fazer desta mesa uma das mais drásticas desta edição. Mas o escritor João Paulo Cuenca, escolhido para abdicar da cervejinha ao sol na tarde de domingo, mostrou não só conhecer muito bem as obras das duas autoras como soube embasar perguntas a partir de teorias de estudiosos da narrativa, como Ricardo Piglia. E ainda evitou qualquer banalização ao focar as questões no discurso literário, e não na vida pessoal.
No fim das contas, falou-se o suficiente de linguagem, recursos literários, exposição do autor na obra e por aí vai, temas que fizeram falta em mesas muito mais badaladas dos dias anteriores. E ainda houve espaço para momentos de descontração, como quando Cuenca relatou o receio que sentiu ao andar numa lancha conduzida em alta velocidade por Wendy. "Admiro muito os kamikazes. Seria um bom final bater meu barco na Flip", disse ela, cheia de poesia, e ele rebateu: "Eu não precisava fazer parte desse projeto!".