Mas, claro, fica a dúvida se a Flip deve homenagear vultos oriundos da academia, já que tem o DNA de festa literária. Fiquei pensando sobre isso com os meus botões, aliás inclinados a me dizer que sim, que tem gente muito boa na academia, cujas obras tornaram-se clássicos, embora desconhecidos do grande público. O próprio FHC sugeriu ontem que a Flip homenageie Sérgio Buarque de Holanda.
Pois a conferência e a primeira mesa sobre Gilberto Freyre apontam um caminho legal, a meu ver. Porque o autor em foco pode ser examinado sob vários aspectos, o público vai experimentando uma certa familiaridade com ele e ao fim dos debates é impossível que não se ganhe conhecimento e interesse pela obra.
Mas Freyre, como se tem ressaltado, é um caso à parte: escrevia de forma fácil, informal, cativante. Eu, por exemplo, me amarro nos plurais dele: cotidianos, transbordamentos...palavras que a gente usa no singular, normalmente. Ele, não. Pluraliza tudo, como se as imagens ganhassem eco. Já Sérgio Buarque de Holanda, bem sabemos, tem uma linguagem completamente diversa. É denso, preciso, lapidar. Se a Flip vier a garantir espaço para os grandes intelectuais/pensadores brasileiros, como Buarque de Holanda, Florestan Fernandes e outros, seria interessante recorrer ao auxílio luxuoso da tecnologia e garantir acesso direto do público a páginas destes autores, durante os dias da Flip, via computador, e-readers, painéis eletrônicos, etc.
Tudo bem que é caro, tudo bem que as pessoas podem fazer por si mesmas, mas, convenhamos: seria o máximo.
Adorei Edson Nery da Fonseca dizendo o poema Bahia de todos os santos ( e de quase todos os pecados), de Gilberto Freyre, hoje pela manhã. E o poeta fala da "gente da Bahia, cor de jacarandá, madeira que cupim não corrói....". Ô beleza...Meu amigo Humberto Werneck me aconselhou a não usar jamais o verbo "declamar" para Nery. Porque ele "diz" poesia. E como diz, Humberto...