Londres e São Paulo
Depois da avalanche de correria, agitação, Christmas Sales, neve e frio, desembarco em São Paulo. De volta ao Brasil após um ano, experimento a sensação que muitos, sejam proletários, retirantes, alta classe, universitários e afins, sentem. A sensação de deslocamento no tempo e no espaço. Ao mesmo tempo em que nada mudou, tudo parece diferente. Eu bem que podia gastar muitas das minhas intermináveis palavras para descrever o 'mix of feelings' (nada mais que a mistura de sentimentos) que atordoa quem passa um ano ralando no exterior e volta à terrinha nesta época do ano. Mas vou roubar os diálogos de conterrâneos que, como eu, esperavam pelos seus vôos no aeroporto de Heathrow há menos de uma semana.
Estava eu saboreando um chá com leite (alguns vícios e qualidades a gente sempre herda de outros povos), quando um grupo de brasileiros sentou-se ao lado:
"Adoro Londres, mas esta cidade não dá. Preciso ir para São Paulo, ver a galera da Zona Sul, comer um churrasquinho, matar uma pizza de verdade", provocou o Paulista. "Não dá por quê? Londres é ótima. E nem vem dizer que São Paulo é melhor. Cidade mais feia, suja, poluída, um trânsito da peste, violenta..", retrucou o amigo nordestino em seu sotaque indefectível. "É verdade, aqui é muito melhor para trabalhar e para viver. Mas sinto falta de pegar meu carro, ir até a padaria da esquina, ser reconhecido no trajeto, parar para falar com o amigo do bar, tomar umas breja, matar umas coxinha! Meu, coxinha!! Há quanto tempo eu não como uma coxinha e tomo uma água-de-côco. Inglês é bacana, mas brasileiro é brasileiro", explicou o Paulista num saudosismo de encher Gonçalves Dias de orgulho. O amigo goiâno não se fez de rogado e retrucou: "Ói qui, acho tudo muito bão aqui na Londres. Aqui na Inglaterra nem mesmo a polícia é corrupta. Uma vez fui parado pela polícia e claro que o cara se ligou que eu estava ilegal. Ele teve a cara-de-pau de me liberar mas não pediu nenhuma 'cervejinha'. No Brasil, era capaz de pedirem a minha casa para não me entregar para o Home Office. E na boa, nem tanta saudade dá. Até coxinha, picanha, farinha e requeijão a gente acha. Mas eu quero mesmo é me jogar num bailão de Goiânia, sair com as meninas, ir num rodeio, dançar muiiito! Vou lá matar a saudade depois eu volto." Diante dos ataques de Policarpo Quaresma indeciso do amigo, a mineira sintetizou: "É... Quando a gente tá aqui, quer estar lá. Quando está lá, quer estar aqui porque começa a sentir saudade da organização, dos políticos honestos, do eletrônicos mais baratos, dos planos para celular que não roubam a gente, do metrô que funciona e vai para tudo quanto é canto, da segurança, do salário em libras. Sabe quando eu, como cleaner (faxineira), ia ter um iphone no Brasil? Nunca."
É... Como bem diz o ditado, the grass is always greener on the other side. Or 'a grama é sempre mais verde no quintal do vizinho.'
HAPPY NEW YEAR! FELIZ 2010!