Guns N Roses: O ditador Axl Rose e sua Chinese Democracy

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Por Redação
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Duas coisas importantes aconteceram no mundo do rock no final de 2008 e me chamaram a atenção: o show de volta do Queen e o aguardado lançamento de 'Chinese Democracy', do Guns N' Roses.

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Muita gente falou sobre esses dois assuntos, mas não vi uma crítica legal sobre nenhuma das duas bandas. A maioria era até contraditória: uns diziam que o Queen não tinha o direito de usar o nome porque a banda era, na verdade, do Freddie Mercury. Daí sai o disco do Guns N' Roses e as pessoas criticam porque o Axl Rose não teria o direito de usar o nome, já que o resto da banda não está lá... (Pô, até parece que Brian May e Roger Taylor são menos importantes para o Queen do que o Slash foi para o Guns).

Enfim, do Queen já falamos muito. Agora é a hora de falar de 'Chinese Democracy'.

(Antes de tudo, um parênteses: as referências à China nas letras são tão infantis...)

A maioria das críticas também ressaltava o fato de que o disco do Guns demorou séculos (13 anos, acho) para sair. E que a banda nem existe de verdade, já que mais de 20 músicos participaram das gravações. Tá, tudo bem. Mas e o som? Será que alguém ouviu o disco? As músicas são boas, são ruins?

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Bom, eu ouvi. E gostei pra caramba. Se você quiser saber como é o som do disco e não as fofocas sobre Axl, lá vamos nós.

Começando pelo começo: Se você não gosta da voz do Axl Rose, nem adianta ouvir o disco (isso já é meio óbvio, não?). Axl está ainda mais exagerado, rouco, esganiçado, gritando como um louco, exagerado e megalomaníaco. Mas, ao contrário, se você gostava do Axl, então vai gostar muito de 'Chinese'. O disco não é inteiro bom, mas hoje em dia é quase impossível encontrar um disco que tenha todas as músicas boas.

Play.

'Chinese Democracy' é um rock de primeira, com riff de guitarra simples e pegajoso; 'Shackler's Revenge' é muito nü metal para mim, mas quem gosta de som pesado e eletrônico certamente vai achar uma das melhores. A terceira do disco é a minha favorita: 'Better'. É perfeita, da melodia dos vocais aos solos de guitarra (fantásticos, aliás). Na sequência vem uma balada que tenta simular os tempos antigos do Guns, mas é meio fraca ('Street of Dreams'). 'If the World' é meio esquisita, com vários violões flamencos e levada meio arrastadona. Tem uns tecladinhos que fazem um clima legal, mas não é das minhas favoritas.

Aí vem 'There was a Time', uma semi-balada legalzinha, mas comprida demais (quase 7 minutos, ficaria legal com 3:30). Logo depois, outra favorita minha: 'Catcher in the Rye'. A homenagem ao 'Apanhador no Campo de Centeio' é muito legal, lembra o estilo dos melhores tempos do Guns antigo. Só uma coisa me deixou triste: o Brian May, do Queen, foi convidado e chegou a gravar o solo de guitarra, mas Axl acabou cortando a participação dele. Por que? Só Deus sabe (e Axl, que pensa que é Deus). O próprio Brian disse que não entendia porque o vocalista não havia usado o solo, já que estava 'muito satisfeito com o resultado final'. Whatever.

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'Scraped' começa com uma das introduções de vocal mais loucas que já ouvi, com várias vozes sobrepostas. Essa deve ser uma das razões pelas quais acusaram o disco de ser 'overproduced', ou seja, produzido demais. Não entendo totalmente essa crítica, principalmente hoje em dia: o que é algo produzido demais? Atualmente até bossa nova é feito com Pro-Tools... (Software de estúdio que faz qualquer coisa que vc imagine)

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Alguém já ouviu Nine Inch Nails, cujo guitarrista Robin Finck gravou com o Guns N' Roses? Hoje em dia todos os sons de um disco são processados em computador mesmo, mas isso não quer dizer que o som seja 'overproduced'.

Ouvir 'Chinese' no iPod, aliás, é uma sensação muito legal porque a cada hora se descobre uma coisa diferente, um efeito especial, um solo de guitarra meio escondido. Eu achei legal porque já sabia que o Axl não ia fazer um disco de rock and roll convencional, como o Guns era no início. É um som moderno, com várias influências contemporâneas, bem diferente da crueza de 'Welcome to the Jungle' (que, aliás, foi escolhida a melhor música pesada de todos os tempos pelo público do canal VH1). O som novo do Guns é original porque mistura as melodias tradicionais da banda com sons mais eletrônicos, como Nine Inch Nails, Korn e Slipknot.

Continuando: 'Riad N' the Bedouins' é uma espécie de 'Immigrant Song', do Led Zeppelin, com o Axl imitando o Robert Plant. Bem legal, apesar do vocal ser tão exagerado que dá para ver a garganta do Axl pegando fogo. Daí vem 'Sorry', outra das minhas favoritas. É uma balada pesadona, arrastada, mas tem um riff de guitarra no refrão que ressuscita os bons tempos do Tony Iommi, do Black Sabbath.

As guitarras também são incríveis - pra variar. Nesse disco, aliás, o que não falta são maravilhosos solos de guitarra (e olha que são vários, alguns até exagerados). Robin Finck é um dos melhores guitarristas da atualidade; Buckethead, apesar do visual ridículo e idiota com um balde do restaurante KFC na cabeça e máscara de Jason do 'Sexta-Feira 13', tira um som incrível da guitarra, misturando solos tradicionais com as técnicas percussivas do Tom Morello, do Rage Against the Machine; Ron 'Bumblefoot' Thal é um mestre da pedaleira de efeitos especiais e esquisitos; os outros guitarristas (Paul Tobias e Richard Fortus) cuidaram mais das bases.

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O disco segue com 'I.R.S.', outra bem legal que lembra o Guns dos discos 'Use Your Illusion I & II'. A bela e épica 'Madagascar' já é velha conhecida dos brasileiros, já que Axl cantou a música no Rock in Rio III (show que teve até versão de Robin Finck para 'Sossego', do Tim Maia). Vem então 'This I Love', uma daquelas baladas com o Axl no piano, no melhor estilo 'November Rain' (mas um pouco mais brega, para falar a verdade). Mas vale muito, muito, pelo solo lindo de Robin Finck - para mim, o melhor solo de guitarra de 2008. E o disco termina com 'Prostitute', uma música leve e tranquila, na boa, com o Axl cantando mais, digamos, 'normalzinho'.

'Chinese Democracy' é um disco bem legal, no geral, para quem gosta de rock pesado. Pena que todo mundo fala tanto sobre as loucuras do Axl, no tempo que o disco demorou para sair, a formação maluca da banda... eu só coloquei o disco no carro e aumentei o volume no máximo. E descobri uma coisa fundamental para quem gosta de música: em vez de ler sobre um disco, é bem mais legal ouvi-lo.

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