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Por Estadão
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 Foto: Estadão

Quando eu gosto de uma coisa, viro um obcecado por aquilo. Isso não vale apenas para os filmes de Stanley Kubrick, por discos dos Beatles, livros de Philip Roth ou seriados como Seinfeld e Simpsons. Minha obsessão vai e vem. A última delas é uma forma de sentimento muito nobre: o amor supremo.

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'Love Supreme', para ser mais exato. Sim, é o disco clássico lançado pelo saxofonista John Coltrane em fevereiro de 1965. Gosto desse disco há um bom tempo, mas recentemente passei a ouvi-lo não apenas o dia inteiro, mas também durante uma boa parte da noite. Eu explico.

Acaba de sair no Brasil o livro 'A Love Supreme - A Criação do Álbum Clássico de John Coltrane', de Ashley Kahn. O autor já havia lançado 'Kind of Blue', sobre a história do disco mitológico de Miles Davis (que, aliás, foi gravado com Coltrane num dos saxofones), que também é maravilhoso (já escrevi sobre ele muitos posts atrás).

No livro, Kahn conta todos os bastidores da criação do disco, com entrevistas com os músicos, histórias incríveis e muitos, mas muitos detalhes técnicos que agradam apenas a músicos. Mas como eu sou um... não posso reclamar. Jazz é um estilo musical tão complexo que mesmo entendendo de música é difícil compreender de onde os músicos lendários tiram sua inspiração. De Deus, talvez.

Digo que passei as noites ouvindo o disco porque, como já disse antes, ele virou uma obsessão para mim. Então não bastava ouvi-lo: eu tinha que ler o livro e ouvir o disco ao mesmo tempo (como eu já havia feito com 'Kind of Blue', diga-se de passagem). Conclusão: na hora de dormir, acendia o abajur, pegava o livro na mesa de cabeceira e... ligava o iPod, claro.

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O livro é um pouco longo, por isso admito que passei algumas noites sonhando com Coltrane tocando os riffs de 'Acknowledgement', 'Resolution', 'Pursuance' e 'Psalm' vestido com um manto branco, no alto de uma montanha, encobrindo o sol que expulsava a noite e brilhava cada vez mais forte. Se já existiu um artista que prova a existência de Deus, ele é John Coltrane. Se era amor supremo o que Coltrane sentia por Deus... é amor supremo o que todos os músicos do mundo sentem por ele. Eternamente.

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