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Liberalismo, Outsiders e Antipetismo nas Eleições de São Paulo

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Por Eduardo Wolf
Atualização:

por Danilo Pacheco de Medeiros

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 Os protestos de 2015 e 2016, além do "Fora Dilma" e do "Fora PT", trouxeram uma pauta quase inédita nas discussões políticas no Brasil. Não havia registro histórico de manifestações de rua com mais de 1 milhão de pessoas, que dirá de manifestações que defendessem um Estado menor, mais enxuto, que interviesse menos na vida do cidadão. "Privatização" deixou de ser um palavrão. "Menos Marx, Mais Mises" passou a ser uma bandeira. A explicitude dos casos de corrupção em estatais, desencadeada pela operação Lava Jato, ajudou a difundir uma visão mais pragmática do Estado - cuja presença em setores não tão essenciais à vida do cidadão quanto saúde, educação e segurança passou a ser questionada.

Janaína Lima, líder do Vem Pra Rua e vereadora eleita pelo Partido Novo. ( Foto: Tiago Queiroz/Estadão)

A defesa desse novo modelo de Estado começou a pipocar no discurso de vários políticos que, até então, tinham uma posição ideológica diferente. Desde o pastor Everaldo, candidato nas eleições presidenciais de 2014, passando por Ronaldo Caiado, alguns políticos moveram-se no espectro ideológico, aproximando-se um pouco mais de posições liberais (ao menos em economia). Inclui-se aí o novato em eleições João Doria, com um discurso de eficiência no serviço público e privatização de equipamentos como Anhembi, Pacaembu, Interlagos e Jóquei.

Em 2015, o Partido Novo (com propostas liberais e mais sucesso nas redes sociais do que o tradicional PT) consegue seu registro no TSE e se habilita a disputar as eleições de 2016. Adotando a diretriz de apresentar candidatos inéditos na política, o Novo estabelece em seu estatuto a proibição de dirigentes partidários de se candidatarem, veta mais de uma reeleição consecutiva e define que suas campanhas sejam financiadas exclusivamente pelos filiados (e não pelo fundo partidário). Em 2016, o PSL (Partido Social Liberal) dá início a uma reestruturaçãoprogramática e a uma renovação de seus dirigentes, defendendo pautas liberais tanto em economia quanto em liberdades civis.

Esses três vetores - antipetismo, crescimento de outsiders na política e maior popularização de ideias liberais - mostraram seu impacto nas eleições municipais. Em São Paulo, a derrota do PT na capital e em redutos historicamente petistas, como o ABC Paulista, escancaram a rejeição ao partido, tendência de amplitude nacional.

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A eleição de Doria, que se apresentou como um gestor, "não-político", sendo o único dos principais candidatos à prefeitura que estreava em eleições, foi a única a ser definida em 1º turno desde que eleições em 2 turnos foram estabelecidas pela Constituição de 88. Apesar dos ataques de seus adversários, que o acusavam do crime de ser rico e bem-sucedido, Doria venceu nas regiões mais pobres de SP, enquanto o melhor desempenho de Haddad foi em Pinheiros, região com o 2º melhor IDH da capital. Teriam as ciclofaixas, símbolo da gestão petista em SP, apelo para as classes C e D? Ou fariam elas maior sucesso com a esquerda descolada, das classes A/B, da Vila Madalena e Jardins? Já Russomano cumpriu a tradição de ser bom de largada e ruim de chegada. Na mesma semana que atacou o aplicativo Uber, começou a dar marcha à ré nas pesquisas Ibope e Datafolha.

Na disputa para a Câmara Municipal, Fernando Holiday, um dos líderes do Movimento Brasil Livre, que ajudou a organizar as manifestações de 2015/2016, é outro estreante em eleições. Eleito com 48 mil votos, negro, gay e pobre, Holiday desafia o estereótipo do "coxinha" estigmatizado pela esquerda, ao recusar a posição de "vítima do sistema" e se opor, por exemplo, às cotas raciais.

O Partido Novo também conseguiu eleger vereadores em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre. Em São Paulo, recebeu 140 mil votos, elegendo Janaína Lima - outra representante de movimentos pró-impeachment, o Vem Pra Rua, advogada, pós-graduada em Direito Público e, assim como Holiday, também de origem humilde. Já em São Bernardo do Campo, Marcos Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, não conseguiu se eleger vereador, fazendo míseros 1.500 votos.

Porém, tratando-se de política, nada é tão óbvio, nem tão preto-no-branco. Desafiando os três vetores mencionados acima - antipetismo, crescimento de novatos na política e difusão de ideias liberais -, o ex-senador petista Eduardo Suplicy, com quase 40 anos na política, bateu recorde histórico de votos para a Câmara paulista (301 mil). São dados antagônicos que compõem a diversidade do quebra-cabeça político municipal.

 

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Danilo Pacheco de Medeiros é administrador de empresas, especialista em Gestão de Negócios e Finanças pela FIA e associado ao Instituto de Formação de Líderes de São Paulo (IFL-SP).