Imagine chegar em casa e dar de cara com um sujeito estranho na sala. E se depois de observá-lo por alguns minutos, você percebesse que o desconhecido, bem mais velho, na verdade é você mesmo, num tempo futuro.
Inspirado pelo livro homônimo de Carlos Heitor Cony, vencedor do prêmio Jabuti como melhor romance em 1996, Ruy Guerra situa o espectador nesse encontro fantástico em Quase Memória.
Carlos (Charles Fricks) é um jornalista que experimenta momentos de apreensão durante o regime militar da década de 1960. Sua vida pessoal não é mais fácil. Divorciado pela quarta vez, ele se encontra num momento de extrema fragilidade e solidão.
Quando seu 'eu futuro' (interpretado por Tony Ramos) aparece em cena, também abandonado à própria sorte e, pior, acometido por uma doença que lhe rouba a memória por completo, os dois homens percorrerão a pantanosa estrada das lembranças - ancoradas, basicamente, pelas recordações afetivas que 'ambos' têm do pai (João Miguel). E isso acontece depois que um deles nota, logo ali no chão, um insólito pacote, cujo remetente dá indícios de ser o próprio patriarca, já falecido.
Com uma atmosfera teatral latente - seja pelo cenário único (a própria sala de Carlos), pelas interpretações exageradas ou pelas distorções de tempo e espaço, representadas pela variação fotográfica -, o longa reflete sobre o medo de envelhecer, o limbo do isolamento, a solidão e as trajetórias humanas, numa trama cheia de contrapontos e emoções.
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