Evento consolidado no calendário cultural da cidade, a Mostra Internacional de Teatro (MITsp) chega à sua 7ª edição. Entre hoje e 15 de março, a programação reúne doze espetáculos internacionais - de países como Alemanha, Chile, França, Portugal, Reino Unido e Suíça - e doze montagens nacionais, que ocupam diversos teatros e centros culturais da cidade.
Seguindo a proposta original dos idealizadores - o diretor artístico, Antonio Araújo, e o diretor geral e de produção, Guilherme Marques -, as atrações apostam na experimentação cênica e são acompanhadas por várias atividades pedagógicas. Do mesmo modo, a MIsp mantém a tradição de colocar certos nomes e produções em maior evidência.
Neste ano, por exemplo, o "artista em foco" da edição será o diretor e dramaturgo português Tiago Rodrigues, nome em ascensão na cena cultural europeia, cujos espetáculos transitam entre a realidade e a fantasia, com linguagem inovadora. Já a "pesquisadora em foco" é a diretora e atriz Janaina Leite, que apresenta um trabalho cujo processo de criação foi compartilhado com o público na última edição do evento, no ano passado.
Aliás, os trabalhos encenados pelos artistas e grupos convidados abarcam os mais variados temas - desde eventos históricos, como o genocídio em Ruanda, até temáticas proeminentes no debate atual, como a imigração e o feminismo. A programação é intensa. Por isso, a seguir, destacamos algumas promessas desta edição. Os ingressos, que custam no máximo R$ 40, podem ser adquiridos antecipadamente pelo site mitsp.org. Em alguns casos, haverá cotas de vendas nos dias de espetáculo, no local.
Além da MITsp, um circuito alternativo, o FarOFFa, criado por artistas e coletivos independentes da cidade, também promove uma programação interessante, que esbanja criatividade.
Artista em foco
Diretor do Teatro Nacional D. Maria II, de Lisboa, o diretor e dramaturgo português Tiago Rodrigues é o artista internacional em foco desta edição. Ele traz ao Brasil dois espetáculos que abordam a temática da memória. Sucesso em 2017 no Festival d'Avignon, na França, a peça Sopro centra-se na trajetória de Cristina Vidal, funcionária do teatro dirigido por Rodrigues, cujo trabalho, há 30 anos, é lembrar falas aos atores que se esquecem do texto. Em uma homenagem ao teatro e aos seus bastidores, a montagem mistura histórias e memórias de Cristina com clássicos de nomes como Chekhov, Racine e Molière. As sessões ocorrem no Teatro do Sesi (Av. Paulista, 1.313, metrô Trianon-Masp, 3146-7406), em 13 e 14 de março, às 20h, e em 15 de março, às 19h.
Já a peça By Heart trata da relação de Rodrigues com a sua avó Cândida, que cultivava o hábito de decorar trechos de livros. Em cena, atores memorizam versos, assim como ela. O diretor, que também participa, fala de sua avó, de escritores como Shakespeare, e de diversos personagens literários. O trabalho ocupa o Teatro Faap (R. Alagoas, 903, Higienópolis, 3662-7233), com sessões em 10, 11 e 12 de março, às 21h.
Abertura em ritmo de techno
Erotismo e violência estão entre os temas explorados pela diretora e coreógrafa franco-austríaca Gisèle Vienne. Ela comanda Crowd, que abre a edição da MITsp, com sessões hoje e amanhã, às 21h, no Auditório Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 2, V. Mariana, 3629-1075). Em cena, 15 jovens vivenciam situações intensas e alterações de sentidos durante uma festa de techno, da qual se sobressaem narrativas individuais. Também de Gisèle, mas em parceria com o escritor Dennis Cooper, a mostra apresenta a peça Jerk, que leva ao Teatro Sérgio Cardoso (R. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, 3288-0136), em 9, 10 e 11 de março, às 19h, uma reconstrução imaginária da história do serial killer Dean Corll, que executou mais de 20 garotos no Texas nos anos 1970. A interpretação é do ventríloquo e ator francês Jonathan Capdevielle.
Memórias de guerra
O conflito civil que assolou seu país em 1994 é tema do espetáculo da ruandense Dorothée Munyaneza. O nome do trabalho, Sábado Descontraído, faz referência a um programa de rádio local da época. Em cena, canções então tocadas são relembradas pela artista, que propõe uma costura de memórias de seus amigos e familiares. As sessões ocorrem hoje e amanhã, às 21h, e no domingo, às 18h, no Sesc Avenida Paulista (Av. Paulista, 119, metrô Brigadeiro, 3170-0800).
Futuro distópico
Produção alemã do diretor francês Philippe Quesne, conhecido por criações com forte apelo visual, o espetáculo Farm Fatale, que ocupa o Sesc Vila Mariana (R. Pelotas, 141, 5080-3000) em 12, 13 e 14 de março, às 21h, traz personagens inusitados: são cinco espantalhos de uma zona rural, antes idílica, que vivem em um futuro distópico. Únicos habitantes do local, de onde até os sons se dissiparam, eles buscam rememorar o passado. Com humor e ironia, fazem músicas, discutem problemas ambientais e têm até discussões filosóficas.
Imagens femininas
Eleita pelo Divirta-se como a melhor peça de 2019, a produção brasileira Stabat Mater, escrita e dirigida por Janaina Leite (pesquisadora em foco desta edição), é outro destaque. Com temas como maternidade e sexualidade, o trabalho é encenado no formato de uma "palestra-performance" sobre a história da Virgem Maria, a partir de texto de Julia Kristeva. Em cena, Janaina aparece ao lado de sua mãe, Amália Fontes Leite, e Príapo. As sessões ocorrem no Teatro Cacilda Becker (R. Tito, 295, Lapa, 3864-4513), em 11 e 12 de março, às 20h. Em 10 de março, às 11h, no Tusp (R. Maria Antônia, 294, V. Buarque, 3123-5233), a artista ainda participa da conversa Escritas de si: feminismo, performance e política, com a performer guatemalteca Regina Galindo.