Redação Divirta-se
24 de dezembro de 2015 | 07h00
A Terra e a Sombra, do colombiano Cesar Acevedo, venceu o prêmio Cámera d’Or (para estreantes), no Festival de Cannes. Mereceu. Com uma dramaturgia sólida e simples, Acevedo mostra uma terrível situação de disparidade social.
O filme começa por acompanhar o passo de um velho personagem, Alfonso. Ele vai a pé, visitar um filho enfermo. Este era um trabalhador no corte da cana de açúcar, mas ficou doente dos pulmões por causa do resíduo de pó das queimadas. Quem agora trabalha em seu lugar, enquanto ele agoniza na cama, são sua mulher e sua velha mãe.
O filme recusa a estética do miserabilismo. Trabalha uma realidade dura e injusta. Porém, sem maniqueísmos. Nem estetização da pobreza. O espaço dramático é, em boa parte, ocupado pelo quarto do doente, que tem de ser fechado para que a poeira não entre e piore ainda mais a sua saúde. O efeito é claustrofóbico. Não menos que nos espaços mais abertos, com a pequena propriedade da família sendo cercada pelo latifúndio. O canavial aperta a casinha como faz uma sucuri com sua vítima.
A questão de fundo será ir embora para salvar o doente ou permanecer para não abandonar a propriedade, que é tudo que eles têm. Há um embate entre o homem que chega, o pai, e sua ex-esposa, matriarca que simboliza a resistência. Mesmo quando resistir pode parecer teimosia e autossacrifício. O filme é comovente e lúcido. Luiz Zanin Oricchio
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