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Divirta-se

32ª Bienal de São Paulo reúne mais de 80 artistas sob o tema 'Incerteza Viva'

Por Celso Filho
Atualização:

Foto: Felipe Rau/Estadão

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Mudanças climáticas, migrações em massa e polarizações políticas. É sobre essa conjuntura de incerteza que a 32ª Bienal de São Paulo quer falar este ano. No entanto, os mais de 80 artistas e coletivos que participam da exposição enxergam no momento atual uma oportunidade para novas narrativas. "É um exercício coletivo de pensar como podemos mudar este caminho", define o curador Jochen Volz.

Assim, a partir de 4ª (7), as cerca de 330 obras, em sua maioria comissionadas, apresentam diferentes visões de mundo, de nomes nacionais e internacionais. Para apresentar algumas delas, abaixo, o Divirta-se agrupou destaques da mostra em temas, como questões ecológicas e contrastes culturais.

ONDE: Pavilhão da Bienal. Pq. Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3, 5576-7600. QUANDO: 9h/19h (5ª e sáb., 9h/22h; fecha 2ª). Inauguração: 4ª (7). Até 11/12. QUANTO: Grátis. Inf.: www.32bienal.org.br

ESTÁ NO PAPO: Jochen Volz

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Como surgiu o tema do evento? Quando começamos, em 2014, muito se falava sobre o fim do mundo como conhecemos e essa sensação de incerteza - seja por questões ambientais ou por polarizações políticas e sociais. Queríamos trabalhar a incerteza de maneira menos apocalíptica e mais positiva. Entender como os artistas têm se alimentado deste momento, entendendo a incerteza como a possibilidade de gerar algo novo. Tentamos desvincular a palavra 'incerteza' de palavras como 'medo' e 'crise', e nos abrir para tudo que não conhecemos. Aprender que as narrativas que dominam o nosso mundo são apenas uma opção de narrativa.

A maioria das obras da 32ª Bienal é comissionada. Como se deu essa escolha? São duas razões. Uma foi o desejo da própria Bienal de enxergar uma mudança no seu papel como Bienal. Hoje, ela é uma importante plataforma para promover discussões e experimentações. Outro motivo é o jeito que eu e a equipe de curadores trabalhamos, baseado no diálogo e provocando discussões. Acho que a exposição é menos um processo de seleção, e mais um processo de construção.

Há também uma seleção de trabalhos mais históricos. Como eles dialogam com os comissionados? Para cada um, há uma ligação específica. São trabalhos que achávamos extremamente fortes, que abriram caminhos no passado. E eles ganham uma outra relevância sendo expostos agora. Cada um desses artistas tem uma ligação forte com os temas que estão aqui.

 

QUESTÕES ECOLÓGICAS

 Foto: Estadão

Foto: Felipe Rau/Estadão

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+ Uma grande corneta, instalada ao lado de uma palmeira, chama a atenção de quem passa próximo ao prédio onde ocorre o evento. O instrumento, criado pelo argentino Eduardo Navarro, faz parte da obra 'Espelho do Som' (foto). Lembrando um gramofone, o aparelho é ligado ao interior da Bienal. A ideia é que o público e a árvore se conectem acusticamente, em uma espécie de troca sonora.

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+ Desde a década de 1970, o polonês Frans Krajcberg, de 95 anos, vive e trabalha em Nova Viçosa, na Bahia. A flora da região é inspiração para seu trabalho, no qual troncos, raízes e cipós recebem intervenções pontuais e se transformam em esculturas. Próximo à entrada do pavilhão, é possível visitar uma 'floresta' de suas obras.

+ Para abordar temas ambientais, o francês Pierre Huyghe frequentemente insere seres vivos em suas obras. Para a Bienal, em uma videoinstalação, ele exibe o vídeo 'De-Extinction', de 2014, com registros microscópicos de uma amostra de âmbar com insetos. Haverá duas maneiras de assistir à obra: de forma mais convencional ou em um espaço fechado por vidros e habitado por moscas.

 

ARTISTAS HOMENAGEADOS

 Foto: Estadão

Foto: Felipe Rau/Estadão

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+ Na 14ª Bienal, de 1977, o argentino Víctor Grippo (1936-2002) ganhou destaque ao produzir energia durante o evento, dispondo sobre mesas batatas conectadas por fios e frascos de laboratório. Agora, a instalação 'Naturalizar o Homem, Humanizar a Natureza, ou Energia Vegetal' volta ao pavilhão, em uma homenagem ao artista (foto acima).

+ Em suas gravuras, o pernambucano Gilvan Samico (1928-2013) faz referência ao imaginário popular e às tradições brasileiras. Foram selecionadas mais de 30 criações do artista, que ficarão expostas em paredes do último piso da exposição. O recorte apresenta a produção de Samico de 1975 até sua morte, em 2013 - com uma gravura para cada ano.

+ Öyvind Fahlström (1928-1976) nasceu e viveu parte da infância no Brasil, até se mudar para a Suécia. No exterior, o artista construiu sua carreira, tornando-se o autor do primeiro manifesto da poesia concreta, publicado em 1954. Agora, seu trabalho volta a ser exposto no País - a Bienal reúne obras de destaque, entre poemas sonoros, pinturas e esculturas.

 

CONTRASTES CULTURAIS

 Foto: Estadão

Foto: Felipe Rau/Estadão

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+ Há 30 anos, o Vídeo nas Aldeias trabalha com questões indígenas no Brasil. Criado por Vincent Carelli, o projeto joga luz sobre o tema com produções audiovisuais feitas pelos próprios índios. Na Bienal, a videoinstalação 'O Brasil dos Índios: Um Arquivo Aberto' (foto) dispõe, lado a lado, três telas de exibição com vídeos produzidos por diferentes povos, como os xavantes, os ianomâmis e os guaranis-caiovás.

+ O que aproxima e o que afasta o 'brega funk', do Recife, e o 'funk ostentação', de São Paulo? Em parceria com Benjamin de Burca, Bárbara Wagner investiga a indústria dos MCs na periferia das duas capitais brasileiras. O resultado está na série fotográfica 'Mestres de Cerimônias' e no filme 'Estás Vendo Coisas', que são expostos no evento.

+ A violência e as cenas urbanas de Kingston, capital da Jamaica, costumam estar presentes nos painéis coloridos de Ebony G. Patterson. Nas obras, a artista jamaicana cria colagens, que recebem camadas de tecidos, tapetes e outros ornamentos. Para a Bienal, ela estabeleceu um paralelo entre seu país e o contexto sociocultural do Brasil.

 

OBRAS IMERSIVAS

 Foto: Estadão

Foto: Felipe Rau/Estadão

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+ Duas instalações retomam técnicas primitivas de construção. Em uma curiosa casa, a finlandesa Pia Lindman criou um espaço para interagir com o público. Durante parte da Bienal, ela apresentará ali diferentes técnicas de cura da cultura nórdica. Já na entrada do pavilhão, Bené Fonteles montou uma oca (foto acima), decorada com objetos coletados pelo artista e que receberá uma programação paralela.

+ Na área externa do prédio, uma obra tem gerado barulho antes mesmo de sua inauguração. Na instalação 'Arrogação', a coreana Koo Jeong A lembra uma das principais 'tribos' que frequentam o Parque Ibirapuera - os skatistas. Com vários níveis em formato circular, a pista de skate recebeu tinta fosforescente, o que a faz brilhar à noite. Todos estão convidados a se aventurar nela.

+ Após visitar a exposição, não deixe de matar a fome em um restaurante próximo à entrada, com cardápio vegetariano. O espaço, na verdade, é a obra 'Restauro', do paulista Jorge Menna Barreto. Com preços convidativos (o PF custa R$ 12, por exemplo), o projeto surgiu de pesquisas com agroflorestas, propondo uma discussão sobre a maneira como nos alimentamos e os impactos disso no planeta.

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