O secretário de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, 55 anos, não toma café. Aliás, não toma nenhuma bebida quente. "Meu café é a Coca- Cola Zero. É de onde eu extraio minha cafeína", brincou.
Em conversa por telefone com a coluna, Leitão falou sobre o ritmo de trabalho na pasta:
- Uma montanha russa. É como se eu saísse do carrinho da montanha russa e já entrasse outra vez para recomeçar...
- O senhor assistiu Ruptura (seriado da Apple TV em que funcionários têm as memórias divididas entre vida profissional e pessoal - deixando a sensação de que o tempo do trabalho é contínuo)?
- Sim. É exatamente isso. Mas não estou reclamando, não...
Leitão reclama é da vilanização da cultura por parte do governo federal. "Quando o governo federal vilaniza isso, ele está atacando um dos grandes ativos que o Brasil possui, um poderoso vetor de promoção e desenvolvimento. Isso não faz sentido", diz. Leia abaixo a entrevista.
Como a sua pasta se coloca em relação ao tratamento que o governo federal tem dado à cultura?
Nós temos um contraste entre o quadro nacional e o estadual. Se no âmbito nacional nós temos uma postura negativa e de confronto em relação à cultura; no âmbito estadual, nosso contexto é positivo, de estímulo, respeito e apoio à cultura.
Ainda assim, o governo Bolsonaro conseguiu transmitir à população uma desconfiança em relação, por exemplo, à Lei Rouanet.
É fundamental que as políticas públicas sejam mensuradas, avaliadas e seus resultados divulgados. Quando o governo federal ataca a cultura vilanizando a Lei Rouanet, estamos falando de um gigantesco desperdício. As atividades culturais são vocações com peso econômico e social. Estamos falando de 2,64 %do PIB brasileiro, quase 5 milhões de postos de trabalho em todo País. Quando o governo federal vilaniza isso, ele está atacando um dos grandes ativos que o Brasil possui, um poderoso vetor de promoção e desenvolvimento, Isso não faz nenhum sentido.
Como o impacto econômico das atividades culturais são mensurados?
Os estudos apontam para um efeito multiplicador do investimento em cultura. Para cada real investido em musicais em São Paulo, nós temos R$16 de retorno econômico. As atividades culturais impactam em cultura, educação, saúde, segurança pública, turismo e na formação dos indivíduos.
Não falta comunicar melhor esses ganhos?
Nós estamos tentando comunicar. Venho remando contra essa maré da vilanização, iconoclastia e crítica. O fato é que atacar é mais fácil que construir. O desenvolvimento do Brasil passa pela ativação do potencial do setor cultural e criativo. Infelizmente, certas forças políticas se alimentam do conflito, dos problemas e não das soluções.
A inauguração de museus como o da diversidade sexual e dos povos indígenas tem caráter político?
Tem um caráter cultural. É uma política que se pauta por contemplar e valorizar a diversidade. A cultura de um país é mais potente à medida que ela for mais diversa.
Projeto fora do governo?
Tenho acalentado o desejo de escrever o livro sobre minha trajetória no campo da cultura. São 20 anos de trabalho. Comecei no início de 2003 - convidado pelo então ministro Gilberto Gil. Mas vou deixar para começá-lo quando eu terminar meu período na secretaria.
Aliás, o senhor sai da secretaria mesmo se o Rodrigo Garcia vencer as eleições?
É uma conversa para acontecer após as eleições. Creio que o Rodrigo deve montar um novo governo caso vença as eleições. A princípio, pretendo voltar à iniciativa privada. Mas estarei sempre à disposição para colaborar com ele.
Carreira política no radar?
Recebi do governador João Doria o convite para ser candidato a deputado federal nestas eleições. Mas entendi que a minha forma de contribuir é no campo da administração pública e não na política. Minha vocação não é o legislativo. Acho que falta para a cultura aumentar e qualificar sua representação política. Esse é um setor expressivo da vida social e econômica. E não temos em qualidade e quantidade uma representação política à altura da importância que o setor tem.
Falta artista neste campo?
Sim, mas não é uma prerrogativa obrigatória. Hoje, existe um fenômeno de profissionalização da gestão cultural. Tem que conhecer arte e cultura, mas não é necessário ser um artista. Mas, claro, Gilberto Gil para mim foi e ainda é uma grande referência.