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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'Tô cheio de ser presidente'

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Por Redação
Atualização:

Andrés Sanchez se diz decepcionado com tão poucas alegrias e tanta dor de cabeça à frente do clube e avisa: quer ir embora

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O futebol não é exatamente uma caixinha de surpresas para Andrés Sanchez, presidente do Corinthians. Frequentador do clube desde os anos 70, iniciou-se nos 80, como monitor das categorias menores. Foi fazendo amigos, aliando-se aqui e ali até realizar o grande sonho de ser presidente em 2007, quando terminou o controvertido acordo com o MSI.

Em 2009, foi eleito para um segundo mandato, mas já sem tanta convicção. Andrés se diz cansado da pressão por resultados, ingressos e patrocínios. Quer voltar às empresas da família, de onde sai o pro labore que o sustenta. Ainda assim, nunca deixa de viajar com o time - só faltou a três jogos desde que assumiu a presidência. Foi sob a batuta de Andrés que o Timão deu a volta por cima da série B, contratou Ronaldo, ganhou o último título paulista e conseguiu um dos maiores patrocínios do futebol brasileiro, da Batavo (leia-se Perdigão), por R$ 18 milhões. Esta entrevista para a coluna foi uma concessão, já que Andrés Sanchez detesta sabatinas longas.

Ser presidente de um dos mais populares times do Brasil era uma meta em sua vida? Eu tinha o sonho de ser presidente do clube e infelizmente o atingi.

Por que infelizmente? Me decepcionei. É um ônus pessoal e financeiro grande. Estou há três anos e meio afastado das empresas da minha família.

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Não recebe pelo trabalho no Corinthians? Imagina... No Corinthians, só pagando. Vivo é das empresas da família.

Gostaria de ser presidente da CBF? Não.

Por que? Quero é terminar minha gestão e sair do Corinthians, ir embora e nunca mais me envolver com futebol. Estou cheio de ser presidente. São poucos dias de alegria para muitos de dor de cabeça.

Que tipo de dor de cabeça? Desde o pedido de ingresso de graça até empresário ligando para vender jogador.

A torcida cobra muito? Muito. A torcida é, hoje, o sindicato do futebol. Eu respeito todos, mas falo muito mais não do que sim.

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É a favor de que só a torcida do time da casa possa ir aos jogos, para evitar brigas? Sou contra. Não adianta querer resolver no futebol todos os problemas da sociedade. Infelizmente, aconteceram mortes fora do estádio, mas isso é um problema social. Quantos cidadãos brasileiros morreram nos últimos anos?

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A Gaviões da Fiel é violenta? Nenhuma torcida é violenta. Onde se aglomeram mais de 10 mil pessoas sempre pode haver problema. Onde tem mais drogas é nas faculdades e escolas.

Existe um código de ética no mercado do futebol brasileiro? O futebol brasileiro é vendedor, não comprador. O assédio aqui é mais nas categorias de base, com garotos sem contrato. No caso dos profissionais é raro. Não tem aqui um time como o Real (Madrid), que é comprador. Nós somos formadores de atletas. Já nas categorias de base, a ética é zero. No futebol, não existe ética nesse sentido.

Ronaldo é mais disciplinado que o Adriano? Não existe no futebol brasileiro um jogador tão profissional quando o Ronaldo. Foi uma exigência dele se sujeitar ao mesmo tratamento que os atletas do clube. Nunca atrasou ou deixou de ir a um treino. Tudo o que o elenco faz, ele faz, e às vezes até mais. É um grande profissional e ser humano.

As festas atrapalham? Isso não é problema meu. Eu também faço festa. Quem não faz? Se for no horário de folga e não comprometer o trabalho, não tenho nada com isso.

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Ronaldo ajudou o Corinthians a conseguir patrocínios? Ele trouxe visibilidade mundo afora e patrocinadores como Panamericano, Bozzano e Baú, que nunca investiram em futebol.

O mercado de futebol está muito inflacionado? Não. O que existe é um clube, o Real Madrid, que elegeu um presidente arrojado, o Florentino Perez. Ele, que tem uma visão macro do mercado publicitário e empresarial, fez dois investimentos (Kaká e Cristiano Ronaldo) que estão fora da realidade do mercado mundial de hoje. Eu não recrimino isso, pelo contrário.

Qual foi o legado do MSI para o Corinthians? Isso tá morto, não falo desse assunto mais.

É comparável ao legado da Parmalat no Palmeiras? Lá teve gente presa por lavagem de dinheiro, na MSI ninguém foi preso. Quem está sendo processado não é criminoso. Não culpo ninguém até ser condenado.

Essa parceria teve um lado bom, que foi o título brasileiro? Às vezes um título custa mais do que se pode pagar. Prefiro ter um clube bem estruturado financeiramente do que ganhar título.

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A situação financeira do Corinthians hoje é tranquila? Tranquilo não está. Ainda temos muitas dificuldades, mas espero que nos próximos anos esteja tudo 100% solucionado.

A Federação Paulista de Futebol é uma entidade transparente e democrática? Democrática, acho que sim. Transparente... não sei. O que é transparência para você?

Mostrar os gastos e receitas, por exemplo... Todo final de ano eles mostram as contas. Se aprovam, é porque deve ser transparente. Agora, a FPF é privada, não tem obrigação de abrir nada. O Corinthians decidiu colocar tudo no site em um momento de loucura clube. Não temos que dar satisfação externa a ninguém. O seu jornal fica mostrando as contas para todo mundo? Não... Quem tem que mostrar isso é o poder público. Ainda assim, abrimos tudo. E isso muitas vezes prejudica o clube.

Por quê? Todo mundo fica sabendo quando tá acabando contrato do jogador, assim como as dificuldades para pagar isso ou aquilo. Aí, fazem uma oferta maior do que podemos cobrir.

A CBF tem o mesmo presidente há muito tempo. Isso é saudável? Em todos os poderes deve haver alternância de poder. Para uns alternância é dois anos, para outros, 40.

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Para o Corinthians vale mais a pena arrendar o Pacaembu ou construir estádio próprio? Prefiro ter estádio próprio, mas o Pacaembu é uma opção. Só que não posso investir no Pacaembu para 30 jogos por ano, não paga a conta. Seria preciso ter outras ações para complementar a renda. E, como sabemos, o bairro é complicado.

O ingresso de futebol no Brasil é caro? Em partes, sim. É só fazer a conta. O salário mínimo é de R$ 400 e você tem três jogos por mês na sua cidade. São R$ 100 de ingresso, mais estacionamento, lanche e condução. Vai quase 50% do salário. Infelizmente o futebol custa caro e a receita é importante para o clube.

Em jogos finais, como ao receber o Inter, quantos ingressos ficam com vocês para distribuir? Temos direito a 50 ingressos grátis. Cada conselheiro, são 300 e poucos, entra de graça. O resto é tudo pago. O Corinthians não dá ingresso de presente.

Por Pedro Venceslau

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