Trancado em seu apartamento há mais de 100 dias, Zé Celso Martinez Corrêa se diz feliz, mesmo com a situação do isolamento social no mundo e as dificuldades financeiras do Teatro Oficina, que dirige há 62 anos. Na semana passada, a companhia precisou desocupar às pressas a casa, no Bexiga, onde manteve, durante 15 anos, seu acervo. No susto, foram avisados que o local - característico do conjunto arquitetônico do bairro - havia sido vendido e seria demolido para construção de um novo empreendimento. "Quem está na pior situação ainda é despejado em plena pandemia. Mas tudo isso me traz um sentido de luta muito forte. Não tenho nem ideia do que vamos fazer depois, vivo o dia a dia e estou feliz", diz.
No acervo da cia estão, além de material audiovisual de peças, documentos, cartazes históricos, cadernos de Zé Celso e outros artistas, obras de Surubim Feliciano da Paixão, peças de roupa de Lina Bo Bardi e um raio-x de Luiz Antônio Martinez Correa, irmão de Zé, assassinado em 1987.
No grupo de risco, pela idade e problema cardíaco, o dramaturgo aproveita o período para fazer lives e escrever o livro A Origem da Tragicomédiaorgya. "Sinto falta enorme do teatro. Estou fazendo essas lives e algumas coisas saem péssimas outras razoáveis, mas não é teatro porque não temos a réplica do público".
Com a campanha #ProtejaOTeatroOficina, o grupo busca doações para sobreviver e custear outra casa para guardar o acervo. "A vida é mais importante que o capitalismo. Já atravessei muita coisa e tenho certeza que vamos encontrar soluções mais bonitas e excitantes". \MARCELA PAES