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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Sucesso na internet, poeta Allan Dias Castro vai lançar livro com monja Coen

Por Sonia Racy
Atualização:

Allan Dias Castro. Foto: Leo Aversa

O terceiro livro do poeta Allan Dias Castro - desta vez em parceria com a Monja Coen - será lançado neste semestre. O gaúcho, radicado no Rio, lançou sua primeira obra, Zé-Ninguém, em 2014. Depois de procurar várias editoras sem sucesso, resolveu bancar a publicação e vendeu mais de 6 mil cópias, número raro para estreantes.

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Advogado "queria corresponder às expectativas" dos pais, ambos advogados, e também cursou publicidade. "Achei que era a coisa mais próxima do autoral, mais próxima da minha vontade de dar vazão aos meus textos", diz ele, que chegou a trabalhar em agência, sempre insatisfeito. "Meu sonho sempre foi ser escritor", contou o poeta à coluna, na semana passada, sentado no café da Livraria da Vila, em Ipanema.

Foi só em 2019, com seu segundo livro, intitulado Voz ao Verbo, pela Sextante, que Castro conseguiu firmar seu caminho e entrar em listas de livros mais vendidos. A obra teve origem no projeto homônimo de poesia falada na internet, cujos vídeos ultrapassaram a marca de 100 milhões de visualizações nas redes sociais. Agora, a mesma editora roda o livro A Monja e o Poeta. Aqui vão trechos da conversa:

 Como você começou a escrever e fazer poesia?  

Foi um desafio pessoal. Eu tinha muitas coisas guardadas, aquela coisa do sonho dormindo na gaveta, e eu querendo ser o porta-voz do que eu acredito. Meu lance é escrever o que eu sinto e falar o que eu escrevo. Sou compositor também, adoro até hoje, tive vários parceiros da música. Eu precisava dessas pessoas, queria ficar escondido atrás da caneta. Era muito mais fácil alguém defender o meu pensamento do que eu mesmo dar a cara, me expor.

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Quando e como você decidiu se expor? 

Eu percebi que meu sonho, de fato, era focar no autoral, no que estava com carimbo de arquivado, esquecido numa gaveta. Sei que não é fácil pra ninguém esse caminho, mas eu nunca tinha nem tentado, nunca tinha me dado a chance. Não estava satisfeito, me sentia eternamente inquieto, aquela coisa, nunca vai estar bom. E aí o que eu fiz? Saí da agência de publicidade, fui fazer curso de escrita criativa em Barcelona, onde morava minha irmã. Fiquei maluco. Peguei o dinheiro da rescisão do emprego e decidi me dar essa chance.

Você se sentia preso?  

Completamente. Sempre digo que a rotina é uma gaiola que só abre às sextas-feiras. Passou a vida esperando e a vida passou voando. A minha era isso,  era a sexta-feira, aquele velho papo de esperar a insatisfação passar em algum momento. Eu não queria morrer com isso entalado.

 Você tem uma percepção muito aguçada do outro. Estudou psicologia, fez processo de autoconhecimento ou nasceu assim? 

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Olha, eu tenho um interesse gigante por filosofia e psicologia, mas nunca levei a fundo. Tenho esse desafio que passa por autoconhecimento também, né. Os vídeos (nas mídias sociais) significaram um processo de cura on-line, cura da timidez, de questões minhas. Você falou que eu consigo acessar as outras pessoas, e quanto mais autoral eu sou, por incrível que pareça, mais as pessoas se identificam. Então, o meu desafio foi realmente tirar essa máscara de ser um cara sem medo. Eu me mostrei, me abri e as pessoas enxergaram a pessoa ali e por consequência, acabam se enxergando também. Me livrando dessa armadura, encontrei os outros.

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 Seu vídeo/poema sobre a raiva, foi muito acessado. Nele você diz que quem nos joga pedra está tentando agredir para dividir a ferida que carrega. E pergunta: quanto tempo dura a raiva que você tem, lembrando que enquanto durou, ela foi sua, e não de quem lhe causou. Escreveu isso porque o sentimento de raiva grita alto no mundo de hoje?  

Na verdade, ofereço o que eu preciso. A maior parte das pessoas acha mais fácil apontar culpados. O processo é muito mais profundo, o velho papo batido de começar por si mesmo. Na raiva, podemos identificar algo que estamos guardando e que está nos fazendo mal. O primeiro passo é começar por nós mesmos. É difícil dizer para as pessoas o que elas têm que fazer, e eu não faço isso. Não me coloco nesse lugar. A grande armadilha seria essa, achar que eu estou em um lugar onde eu posso dizer o que o outro deve fazer.

 Conheço poucas pessoas que desistem de julgar os outros... 

Acho que como poeta, o julgamento seria muito complicado. É que eu realmente procuro passar para o meu trabalho o que eu estou buscando pra minha vida. Acredito que este será meu caminho por muito tempo.

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