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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Sampa 464, uma cidade caótica, violenta, criativa e admirada

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Por Sonia Racy
Atualização:

PONTE OCTÁVIO FRIAS DE OLIVEIRA. FOTO: DIVULGAÇÃO/SPTURIS 

Barulhenta, bonita, uma referência global, um lugar cheio de energia. Um pacote de realidades opostas onde cabem desde a sofisticação dos bolsões de luxo de ricas cidades europeias até à miséria de quarto mundo de periferias degradadas. É assim que arquitetos e urbanistas consultados pela coluna definem São Paulo nesta quinta-feira, 25, em que ela completa seus 464 anos.

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"Está mais violenta, mais caótica, mais poluída e insuportável mas - não sei por que... - gosto mais dela agora", resume o arquiteto e urbanista Marcio Kogan. Comparada com um pacote do tipo Roma-Londres-Berlim-Tóquio-Nova York-Paris-et caterva, a Pauliceia está hoje melhor ou pior do que há 20 anos? Para ele, e para os outros, é difícil avaliar.

"Para mim é uma cidade belíssima, metrópole global, referência para muita coisa mundo afora", destaca o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) de São Paulo, José Roberto Geraldine Jr. "Uma cidade com problemas. Como são, aliás, todas as grandes metrópoles do planeta."

"No geral, acho que a cidade melhorou ao longo do tempo", pondera o urbanista Edson Elito, também do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. "Em diferentes gestões, comandadas por grupos políticos diferentes", diz ele, "cada um dos prefeitos direcionou energias para melhorar alguma coisa".

A herança, nenhum deles nega, é pesada. E para tirar da paisagem tantas desigualdades, pobreza nas periferias, centro deteriorado, insegurança, cracolândias e péssimo transporte, Elito bate na tecla do planejamento. "A Pauliceia tem essa herança a vencer, a de ter crescido desordenadamente. Por exemplo, errou-se muito ao se permitir que fossem ocupadas as margens dos rios. Mas temos de acreditar no planejamento. Em modernizar nossos projetos e práticas. Sem isso as coisas não vão andar."

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Cético e rigoroso, Kogan - conhecido pela criação da Casa Cobogó -, entende que a cidade "não tem a mínima preocupação de ser melhor". Desde o começo da ditadura militar, segundo ele, "os arquitetos e urbanistas foram definitivamente esquecidos". As boas soluções? "Elas existem às milhares, mas provavelmente nunca serão implementadas." Na sua lista de temas esquecidos ele inclui desde "calçadas em que se possa andar a profundos problemas como o do saneamento básico". Mas isso não o impede de gostar do que vê à sua volta. "Adoro São Paulo, acho bem interessante a sua incrível energia. É uma de minhas cidades favoritas - às vezes não acredito quando falo isso..."

O centrão da capital, abandonado, com população de rua, cracolândia e insegurança, está no foco desse olhar dos três, seja como paulistanos ou como urbanistas experientes. Como a área central deveria ser abordada? "Obviamente com leis urbanísticas mais agressivas", avisa Kogan. Para ele, "todos os últimos planos diretores foram sempre tímidos". De novo irônico, ele emenda: "Mas as coisas estão melhorando. Em 100 anos viveremos em uma cidade melhor..."

Preferindo abordar a realidade mais imediata, Elito acha que é preciso parar de falar de infraestrutura e começar a tratá-la, a começar pelo saneamento. No pacote ele pede solução para a mobilidade "num sentido amplo, que inclui pedestres, ciclistas, calçadas conservadas". E além do que há para consertar ele lembra o que tem de começar quase do zero - urbanização de favelas, habitação social.

Geraldine Jr. adverte, porém, que, numa política realista, de intervenções pontuais, "os nossos arquitetos e urbanistas têm muito a contribuir". Numa hora dessas, segundo ele, "é preciso ser criativo. Há uma escassez de recursos para investir. A solução é aliar economia com criatividade". / GABRIEL MANZANO

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