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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Procura por óleo de cannabis medicinal feito por ONG aumenta na pandemia

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Por Marcela Paes
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 Foto: Cesar Matos

No início de março, Cassiano Gomes viu o número de pedidos pelo óleo de cannabis medicinal, produzido pela ONG Abrace Esperança, que ele coordena, aumentar vertiginosamente. "Tive 4 mil pedidos e 500 novos cadastros em dois dias e o site até caiu", diz ele. O responsável pela propaganda involuntária foi o desembargador federal Cid Marconi, do Tribunal Regional Federal da 5ª Região. O magistrado determinou a suspensão da liminar que permitia que a Associação, localizada em João Pessoa, cultivasse maconha com fins medicinais. 

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 "Muita gente, que já faz o tratamento conosco, ficou com medo de ficar sem o óleo", conta Gomes. A decisão foi, posteriormente, revogada pelo próprio desembargador, que impôs prazo de até quatro meses para que a Abrace cumpra a lista de regulamentações impostas pela Anvisa. Mas o crescimento da procura pelos óleos que a associação produz começou antes. Desde o início da pandemia, a ONG viu o número de pessoas que busca se tratar com cannabis aumentar.

Criada em 2015, a Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace), tem hoje cerca de 17 mil associados, que, mediante uma receita médica, podem requerer o óleo de cannabis, com diferentes concentrações dos princípios THC ou canabidiol. Hoje, contam com cerca de 116 funcionários, divididos em três prédios.

 O comissário de bordo Alan Amati Campos é um exemplo. Com crises de ansiedade e depressão, resolveu optar pelo tratamento alternativo depois de ver sua saúde mental piorar na pandemia. Contratado por uma companhia aérea após processo seletivo concorrido, ele trabalhou apenas um dia antes de receber o aviso de que estaria em licença não remunerada até julho de 2022. "Eu parei de tomar remédios controlados um pouco antes da pandemia porque não aguentava mais os efeitos colaterais. Depois, me vi sem emprego e trancado em casa. Já pensava nessa alternativa desde que morei no Canadá e entrei em contato com a maconha medicinal", explica. Campos procurou um dos psiquiatras listados na lista de médicos parceiros da Abrace. Depois da consulta, recebeu uma receita de óleo de canabidiol. "Com um mês percebi os efeitos. Estou dormindo muito melhor. Se fosse só esse o benefício já estaria feliz. Mas também estou muito mais tranquilo", conta. 

 O professor e comunicador Gustavo Dainezi sentiu queda em sua produtividade durante o isolamento. Ele está terminando um doutorado e diz que não conseguia se "desligar das notícias da pandemia". Tanto ele, quanto a sua mulher, começaram o tratamento e sentiram melhora na concentração. "Até as pessoas que não sabiam do tratamento perceberam pelas chamadas de vídeo que eu estava mais presente, atento".

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 Na Abrace, a procura pelo óleo vem em grande parte de pessoas que buscam alternativas para o tratamento de doenças neurológicas. Pais de crianças autistas e responsáveis por pessoas com Alzheimer integram o montante.

 O pulo do gato oferecido pela ONG é o valor do produto. "A ideia pra associação partiu daí. Demorava para conseguir o óleo fora, além do preço alto, baseado no dólar", diz. Segundo Gomes, o tratamento com o óleo produzido pela Abrace pode começar em torno de  R$ 79 por frasco.

De acordo com relatório do The Green Hub, o mercado global de cannabis legal está estimado em U$103,9 bilhões em 2024. A maior parte dessa fatia deverá ficar com Estados Unidos, Canadá e Europa. Já a América Latina deverá responder por U$ 9,1 bilhões. Mais de 50% da atividade de pesquisa global sobre cannabis é baseada nos EUA, com o Canadá na sequência. 

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