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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Em exposição no Tomie Ohtake, Maxwell Alexandre mostra negros empoderados

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Por Marcela Paes
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Maxwell Alexandre. Foto: Nilton Santolin.

Criado na favela da Rocinha, no Rio, onde vive e tem seu ateliê, Maxwell Alexandre não gosta do reducionismo atrelado à sua origem. "Eu sei que essa narrativa de dizer que eu sou de lá é 'vendável', mas acho constrangedor quando dizem que eu 'pinto o cotidiano da Rocinha'. Não é só isso", ressalta o artista.

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O público poderá ver parte indissociável da vida de Alexandre na comunidade por meio da exposição Pardo é Papel, que começa hoje no Instituto Tomie Ohtake. A mostra já passou pelo Museu de Arte Contemporânea de Lyon e pelo Museu de Arte do Rio e vai para Bienal da Tailândia em julho, além de constar na agenda do The Shed, em Nova York, em 2022. Cheio de imagens de força, o trabalho é uma celebração do povo preto, da autoestima e da bonança.

"São painéis sobre vitória, sem mazela", diz. Como o nome da mostra sugere, também traz questionamentos sobre a palavra "pardo", que ganhou contornos negativos dentro do movimento negro. "Minha obra é bastante política, não tem como fugir, mas não tenho compromisso com isso, não carrego essa amarra", explica.

Assim que conheceu o trabalho de Maxwell e depois o artista, Francis Reynolds, do Instituto Inclusartiz, o convidou para fazer uma residência na Delfina Foundation, em Londres. "Achei que com isso ele teria um espaço fora do contexto do Brasil para ampliar seus contatos. E assim foi", diz ela.

Caseiro mesmo antes da pandemia, Maxwell aproveitou o isolamento para trabalhar. Está desenvolvendo uma nova série de obras chamada Distanciamento Social. Nela, a camiseta usada como uniforme na escola pública sobe para o rosto, como uma forma de proteger do vírus. "A camisa da escola pública já carrega um estigma que faz com que distanciamentos aconteçam mesmo sem pandemia", explica.

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Nem as novas experiências fora do Brasil o fizeram mudar de ideia sobre algo que já achava antes de sair do País: considera o Rio o melhor lugar para criar suas obras. "Nada funciona, o mundo está acabando. A Europa é maior paz, maior tédio. No Rio, se você não acelerar, você perde. Essa urgência faz a arte ser boa'.

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