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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'O mundo enveredou por caminho popular', diz Erasmo Carlos sobre sucessos atuais da música

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Por Marcela Paes
Atualização:

O cantor Erasmo Carlos Foto: Guto Costa

Entre as preocupações de Erasmo Carlos - que incluem o futuro do planeta, do País e, principalmente, da juventude - não está a opinião dos outros sobre ele. Com o disco O Futuro Pertence À... Jovem Guarda recém-lançado, o músico conta à repórter Marcela Paes que gostaria de alcançar os jovens e que quer passar uma mensagem, mesmo que as pessoas não estejam "nem aí".

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"As pessoas querem dançar e rebolar, mas é minha obrigação, minha contribuição", diz o cantor, que promete álbum de inéditas daqui a dois anos. Leia abaixo a entrevista completa, feita por videoconferência.

Por que fazer um álbum de releituras? A pandemia trouxe nostalgia? Não, eu quis homenagear a frase "O Futuro Pertence à Jovem Guarda". Quem é a jovem guarda? São as novas gerações, os bebezinhos que estão nascendo agora e que vão fazer o futuro melhor do que o que está aí. Ninguém está satisfeito com o País nem com o mundo do jeito que está. Nós não estamos cumprindo nossa obrigação, não estamos dando educação nem saúde para que os jovens cresçam com um futuro bonito, com amor.

É assim que vê o Brasil neste momento? Quando eu protesto falo em termos gerais, em termos da humanidade. Morro sem entender por que é que a ciência constrói por um lado e destrói pelo outro, morro sem entender por que é que o homem já pisou na Lua mas não sabe do monstro do lago Ness. Uso o humor para falar a verdade. Eu sei que as pessoas não estão nem aí, as pessoas querem dançar, cantar e rebolar, então ninguém está a fim de ouvir essas mensagens, mas é a minha obrigação, a minha contribuição. Se todos contribuíssem, o mundo estaria melhor.

A carreira da Anitta vem crescendo no exterior. Outro exemplo é o sucesso do Alok, com muitos ouvintes internacionais nos streamings. O que acha da música que exportamos atualmente? As tendências populares do mundo enveredaram pelo caminho do entretenimento, da dança, do descompromisso e do carnaval, sabe? O funk pra mim é um carnaval. Você se solta, rebola, fala o que quer, fala palavrão e se liberta. É uma coisa completamente diferente dos anos 1960, onde valiam harmonia, a melodia da música, aquela coisa que arrepia, que faz chorar e desperta sentimentos. É isso, o mundo enveredou por um caminho mais popular.

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Crê que não há um grande espaço para o tipo de música que você faz? Esse outro caminho existe, ele apenas não tem chance de ser mostrado. As televisões não mostram, as rádios não tocam. Eles dão preferência a esse carnaval, a essa música completamente descompromissada com o puro propósito de entreter as pessoas. Na pandemia eu aprendi a fazer playlists e estou descobrindo muitas coisas novas. Estou maravilhado e vivo arrepiado pelas músicas o dia inteiro. Estou armazenando coisas pra lançar meu próximo trabalho autoral daqui a uns dois anos mais ou menos.

Você acha que fazer releituras de sucessos pode fazer com que o público mais jovem entre em contato com o seu trabalho? A proposta para minha sobrevivência é essa, sabe (risos)? Sou um cara que procura ser atuante, sou antenado e sei de quase tudo. Posso não saber da notícia, mas sei da manchete. Se o jovem vir algo agora ele pode, sim, ir atrás de coisas que eu fiz no passado e assim eu ganho um novo fã. A minha tendência é essa, continuar atuando, sempre me mostrando. Jesus Cristo, eu estou aqui. Se a pessoa nunca ouviu o antigo, para ela aquilo é novo.

Seu disco "Carlos, Erasmo" é hoje considerado pela crítica um dos melhores álbuns da música brasileira . Sente que esse reconhecimento acabou sendo, digamos, um pouco tardio? A imprensa acha, mas eu gosto mais do Erasmo Carlos e Os Tremendões. Nunca liguei muito para isso. Podem falar mal ou bem de mim, não ligo. Faço minha música do jeito que eu sinto. O meu universo é muito particular, sou muito entregue à música, à minha casa, à minha mulher, Fernanda, e à minha família. Não quero saber o que os outros acham de mim.

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