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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'O grande amor da vida de Diana foi, sem dúvida, o príncipe Charles'

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Por Sonia Racy
Atualização:

 Foto: Andre Dusek/Estadão

Na semana em que o filme sobre a princesa de Gales estreia no Brasil, a embaixatriz Lúcia Flecha de Lima é taxativa: nenhuma produção poderá fazer jus à imagem de Lady Di. "Ela foi fantástica."

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Dezesseis anos após sua morte, o primeiro longa-metragem sobre a vida de Lady Di tem dividido a crítica e o público mundo afora. Diana, do diretor alemão Oliver Hirschbiegel, mostra uma princesa frágil, interpretada por Naomi Watts, e explora seu caso amoroso com o cirurgião Hasnat Khan. Mas o paquistanês, avisa Lúcia Flecha de Lima, não foi o grande amor de Diana. Tampouco o bilionário Dodi Al-Fayed, morto no mesmo acidente que tirou a vida da princesa de Gales - em agosto de 1997, em Paris - e com quem passou os últimos minutos de sua vida. "Conheci o Hasnat Khan, é uma pessoa muito meritória. Mas o amor da vida da Diana foi o Charles", conta a embaixatriz.

Lúcia ainda não viu o filme - que estreia no Brasil nesta sexta-feira. Mas se antecipa: "Não acredito que algum filme será capaz de fazer jus à sua imagem". Critica também as biografias feitas a respeito da princesa, com exceção de uma: "Tem um livro que é mais sério, o da jornalista Sally Bedell Smith. O restante é fruto de traição, de gente que convivia com ela e depois saiu falando o que quis".

Na entrevista - que concedeu à coluna depois de alguma insistência -, essa voz próxima àquela que foi idolatrada pelos ingleses admite que considerava Diana uma filha mais velha. "Ela se tornou parte de nossa família, coisa da qual ela sentia muita falta", revela. Foi durante a temporada como embaixatriz em Londres que ambas se aproximaram. E o fim de um dos casamentos mais acompanhados do século, o de Lady Di com o príncipe Charles, estreitou ainda mais o relacionamento. A transferência do embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima para os Estados Unidos não as separou. Pelo contrário: até Natal Diana passou com os Flecha de Lima na embaixada de Washington. "Ela se sentia bem em nossa casa. Achava muita graça quando um filho nosso ia viajar e íamos todos para o aeroporto acompanhar (risos)", lembra-se.

A forte amizade, conta, se diferenciava das que a princesa mantinha com outras pessoas. "Sendo brasileira, eu não tinha interesse particular nas coisas que estavam acontecendo na corte. Era amiga dela incondicionalmente e pronto. Pouco importava se alguém gostava ou deixava de gostar de mim. E é obvio que deixavam de gostar." A seguir, os principais trechos da conversa.

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O filme tem recebido duras críticas lá fora. A sra. já viu o filme, pretende assistir?

Não vi e não sei se tenho vontade de assistir. Esses filmes são todos muito fantasiosos, distantes da verdade. Isso me irrita bastante.

Algum filme, em sua opinião, vai poder fazer jus à imagem da princesa Diana?

Nunca. Por ser uma pessoa muito pública, Diana se apresentava de diferentes maneiras. Poucos realmente a conheciam por inteiro. Quando você tem uma cômoda de compartimentos, conhece gavetas. Mas por inteiro a gente conhece muito pouca gente. Além disso, ela já tinha todo um passado que, obviamente, se refletia em sua vida adulta. Ela teve uma infância muito difícil.

Como foi a infância dela?

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O pai dela era o conde Spencer. Não era de linhagem real direta, mas era altíssima nobreza inglesa. A avó dela era uma grande amiga da rainha-mãe, avó do príncipe Charles. Conversamos muito sobre isso. Não foi uma infância feliz, porque os pais se separaram quando ela era muito jovem. E foi um divórcio muito, muito amargo, com muitas brigas. A ponto de a avó dela depor contra a própria filha no processo de divórcio, entende? E os pais disputavam os filhos. Era uma época em que divórcio não era uma coisa tão comum.

Mas, pelo que se sabe, o ambiente era propício para ela ser uma princesa. Não foi assim.

Sim, em aspectos educacionais. Mas a emoção é outra coisa. E, nessa história, tenho de abrir um parêntese: a família real britânica não tem muito a ver com aristocracia. Ela é única. Eles residem ali, no Palácio de Buckingham, e a aristocracia vive à sua volta.

Como se tornaram próximas?

Na verdade, quando Paulo Tarso (Flecha de Lima, marido de Lúcia) foi nomeado embaixador em Londres. Nos conhecemos, ela e o príncipe tinham uma viagem marcada para o Brasil. Ficamos amigas. Ela me procurava muito. Tinha idade para ser minha filha mais velha. Diana se tornou um pouco parte da minha família, coisa da qual ela sentia muita falta.

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Ela se sentia muito sozinha?

Acho que sim. Sobretudo na fase em que aprofundamos nossa amizade, no fim do casamento. Ela ia passar fim de semana em casa, entende? Na embaixada, eu digo. Quando nós fomos para os Estados Unidos (por causa da transferência do embaixador Paulo Tarso para o país), foi muito duro para mim e para ela. No primeiro Natal, Diana telefonou para lá. Costumava passar o Natal com os filhos e o boxing day (dia seguinte ao Natal) lá na embaixada, em Londres. No primeiro boxing day que passamos nos Estados Unidos, Diana estava conosco.

E quantos dias ela acabou passando lá com a sra.?

Uma semana. Achava muita graça quando um filho nosso ia viajar e íamos todos para o aeroporto acompanhar. (risos) É uma coisa muito mineira até, ir toda a família levar ao aeroporto. E ela gostava muito do Paulo Tarso também.

Há quem diga que Diana queria muito da vida: ser princesa e, ao mesmo tempo, ter amor. O que acha dessa observação?

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Acho que isso é absolutamente possível. Qualquer um precisa ter amor. Lembre-se de que ela se casou com 18 anos. Mas, coitada, não teve amor, simplesmente porque já existia a Camilla (Parker- Bowles, antiga namorada do príncipe Charles, que, depois, tornou-se sua amante).

E ela conversava muito com a sra. sobre a Camilla?

Sim, nós falávamos muito sobre isso. Diana estava realmente convencida de que, quando o príncipe Charles se casou com ela, estava mesmo apaixonado. E foi um nível de casamento bom, feliz. Quando o príncipe William (filho mais velho do príncipe Charles e de Diana) nasceu, ela dizia que o marido ficou muito encantado com a criança. Eu tenho certeza de que isso não é mero fruto da imaginação dela.

Quando Diana começou a descobrir que Charles não era mais apaixonado por ela?

Um pouco depois de o Harry (o filho mais novo do casal) nascer, eu acho. Diana começou a descobrir que, na verdade, ele ainda gostava da Camilla. Eu acho até que ele teria se casado com a Camilla se ela tivesse esperado por ele. Mas ele fez uma longa viagem com a Marinha. E, quando voltou, Camilla já estava casada. Porém, acho que os ingleses conseguiram a princesa de Gales ideal. Ninguém contesta que Diana foi fantástica.

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O mundo reconhece isso?

O mundo sim, mas a família, infelizmente, não. Eles não souberam entender os problemas pelos quais as pessoas que entram para a família real passam. Hoje, as coisas estão muito diferentes. Veja o relacionamento do príncipe William com a Kate (Middleton), sua mulher, por exemplo. Eles escolherem passar os primeiros dois meses da vida do filho deles com a família dela. Isso era simplesmente impensável há alguns anos.

Qual sua opinião a respeito da princesa Kate Middleton?

Ela é muito adequada. O príncipe William parece felicíssimo com Kate. Porque ela tem uma segurança que a Diana não tinha: a do amor do marido.

A sra. acha que os filhos de Diana herdaram dela um aspecto afetivo bem aparente?

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Creio que sim. Ela era muito afetiva, principalmente com os filhos. Eu dizia para Diana: "Você não parece inglesa, parece latina". Porque ela demonstrava muita afeição. Mas também acho, sinceramente, que o príncipe Charles foi um excelente pai para os meninos.

Ele conseguiu ser um exemplo para os dois filhos?

Sim. William é o herdeiro do trono perfeito. O Harry tem lá as histórias dele, mas é uma pessoa absolutamente encantadora. Diana sempre me dizia: "Cumpri meu dever da maneira que devia ter cumprido", que é ter um herdeiro. E ela teve o William e o Harry - dois herdeiros para a coroa britânica.

Quais as memórias mais fortes do tempo em que a sra. e ela foram amigas? O que mais a impressionava nela?

Muita coisa. Porque, apesar de ser uma espécie de ídolo mundial, era uma pessoa extremamente simples. Ela ia lá em casa, como hóspede. Até coloquei em um dos quartos uma plaquinha escrito "Diana's room" e ela ficou felicíssima. Era uma pessoa fácil. Os empregados eram apaixonados por ela, porque não era nada exigente. Era um prazer mesmo.

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Qual foi o maior acerto de Diana, na sua opinião?

Ser verdadeira.

E quais seriam, no seu ponto de vista, os erros que ela poderia ter evitado?

Obviamente que aconteceram erros. Mas quem sou eu para apontar, não é? Não dá. Acho que, se houve algum erro maior, não foi dela. Porque ela se casou com o príncipe Charles gostando dele, tenho certeza disso. Esse filme que vai entrar em cartaz esta semana fala sobre o relacionamento que ela teve com o médico (o cirurgião paquistanês Hasnat Khan), não é isso?

É. Exatamente.

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Eu o conheci, era uma pessoa muito meritória. Mas o amor da vida de Diana foi o príncipe Charles.

A sra. não tem dúvida nenhuma disso, não é?

Nenhuma.

E ela estava apaixonada pelo Dodi Al-Fayed?

Não, esse eu vou dizer que não. Se você me perguntasse se ela teve alguma paixão pelo Hasnat, não sei. Pode até ter tido. Mas, enfim, pelo Dodi Al-Fayed tenho certeza de que não. Porque eu perguntei isso para ela.

Diana tinha outras amigas como você?

Ela tinha outras amigas, mas eu era a mais velha das grandes amigas dela. E era uma amizade diferente. Também porque, eu sendo brasileira, não tinha interesse particular nas coisas que estavam acontecendo na corte. Eu era amiga incondicional dela e pronto. Pouco importava se alguém gostava ou deixava de gostar de mim. E é óbvio que deixavam de gostar de mim.

Recebeu algum telefonema da realeza pedindo que aconselhasse Diana?

Não, nunca. Houve algumas cartas do príncipe Philip (marido da rainha Elizabeth II), aconselhando a princesa... na verdade, aconselhando Diana a não se separar do príncipe Charles. Eram cartas muito boas, muito sensatas. Mas só isso./SONIA RACY E MARILIA NEUSTEIN

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