EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Noite de confrades

PUBLICIDADE

Por Sonia Racy
Atualização:

 Foto: Guilherme Gonçalves/ABL

"Não estamos diante de uma elite que sabe e de um povo que desconhece. O momento é de respeito à pluralidade das identidades culturais e de reconstrução das instituições, para que elas captem e representem o sentimento e os novos interesses da população. Só assim poderemos manter acesa a chama da liberdade, do respeito à representação e da autoridade legítima e evitar que formas abertas ou disfarçadas de autoritarismo e violência ocupem a cena."

PUBLICIDADE

Foi assim, para um lotado Salão Nobre do Petit Trianon, que Fernando Henrique Cardoso encerrou discurso - de exata uma hora - de posse na ABL, anteontem, no Rio. Para ouvidos e olhos atentos dos mais de 200 convidados, entre os quais Alckmin, Aécio, Serra, Marco Aurélio Mello, Henrique Eduardo Alves e Gilberto Gil. Foi, aliás, a primeira vez que o cantor prestigiou uma posse na Academia.

Ausências mais sentidas? Eduardo Paes e Sérgio Cabral - que cancelaram a presença a poucos minutos do início do evento e fizeram o staff da ABL correr para tirar seus nomes das saudações iniciais da cerimônia. Mas já era tarde para desmontar todo o aparato de segurança montado pela PM na porta da Casa de Machado de Assis. Temendo manifestação contra os representantes do Executivo do Rio, a tropa de choque da Polícia fechou a rua que dá acesso à ABL.

Os imortais foram obrigados a desembarcar de seus carros a cerca de um quarteirão da entrada principal e caminhar fardados até a sede, levando, ao pescoço, o valioso colar dourado dos acadêmicos. "Para garantir a segurança de alguns, vocês estão colocando em risco a segurança de outros, como eu", reclamou o imortal Tarcísio Padilha, de 85 anos, a um dos policiais.

FHC já falava há meia hora quando o presidente da Câmara dos Deputados chegou - coincidência ou não, no momento em que o ex-presidente iniciou o trecho mais político de sua fala. "O corporativismo que renasce e passa do plano político ao social é o cupim da nossa democracia. Se somarmos impulsos populistas, temos um sistema político enfermo."

Publicidade

"Um discurso de estadista. Ele falou dos últimos acontecimentos sem paixão, mas com profundidade", disse Ellen Gracie. A ex-ministra do STF chegou ao Salão Nobre do Petit Trianon quando todas as cadeiras já estavam ocupadas, e houve corre-corre para acomodá-la. "É a popularidade do homenageado", brincou.

Na outra ponta do salão, Serra encontrou um lugar vago embaixo da caixa de som. Ficou ali por dez minutos, até que foi socorrido e acomodado em uma das cadeiras reservadas aos imortais.

No coquetel, copo de uísque na mão, Marco Aurélio Mello foi abordado por uma senhora, que cobrou o julgamento do chamado mensalão mineiro, que envolve políticos do PSDB. "Quero saber se no mensalão de Minas Gerais vai ter esse fuzuê todo, a opinião pública toda em cima, porque querem matar o PT", afirmou a senhora, dizendo-se fã de Lula e Dilma. "A opinião pública não influencia o juiz. A senhora certamente não fecha os olhos para desvio de conduta. Temos de aguardar e confiar no Judiciário", respondeu o ministro - salvo por outro convidado que pedia foto a seu lado.

Enquanto FHC recebia os cumprimentos, sua namorada, Patrícia Kundrát, cuidava para que o mais novo imortal não ficasse desamparado. Chegou a parar um garçom e pediu que levasse champanhe e água ao "presidente". Sorria, agradecia os elogios e posava para as fotos, num longo azul-petróleo.

Embora tenha um sorriso tatuado no antebraço, Patrícia não sorria o tempo todo. Fechava a cara sempre que assediada por jornalistas. "Imprensa, não. Obrigada, mas imprensa, não", repetia. /THAIS ARBEX

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.