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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'Não defendo as políticas mais controversas', diz Tony Ramos

Por Sonia Racy
Atualização:

Tony Ramos. Foto: Estevam Avellar

Diferente de muitos atores, Tony Ramos tem aversão em participar de redes sociais e influenciar seguidores. "Não defendo as políticas mais controversas, sejam à esquerda ou à direita. Não induzo o meu público mesmo", revelou semana passada, em conversa com a repórter Paula Bonelli, por videoconferência. Tampouco se classifica como neutro: "Nunca subi num palanque político. Mas isso não faz de mim um ser apolítico". Vacinado contra covid-19, o artista lamenta a morte de Paulo Gustavo: "Um brasileiro corajoso, fez uma família linda com o seu companheiro, e um grande artista".

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Entusiasta da televisão aberta, vivenciou o surgimento da TV fechada, e está também no streaming: "As várias plataformas vão conviver. Agora, assistir a televisão, em tela de celular, é um direito de cada um, mas não conte comigo", diz, referindo-se à baixa qualidade da experiência.

Aos 72 anos, Ramos já viveu 138 personagens no cinema e no teatro e continua contratado da TV Globo. A novela Mulheres Apaixonadas, onde contracena com Christiane Torloni, agora está disponível no Globoplay - parte de um projeto da emissora de resgate de clássicos da dramaturgia. Exibida em 2003, é considerada um dos grandes sucessos do autor Manuel Carlos. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida.

Você se mantém neutro politicamente?

A palavra neutro é muito perigosa. Nunca subi num palanque político. Mas isso não faz de mim um ser apolítico. Não defendo as políticas mais controversas que existem, à esquerda e à direita. Eu não livro ninguém. Agora, quer que eu declare em quem eu votei, em quem eu vou votar? Não induzo o meu público mesmo! Eu não levo o meu público a nenhuma atitude. Mas defendo bandeiras, na hora de votar pense em alguém com um grande projeto de educação, integral e público. O mesmo na saúde. Acho o SUS um grande vencedor com profissionais batalhadores que ganham muito mal. Pense em liberdade de expressão, em um País plural, que respeite qualquer religião, de Constituição laica, como a nossa.

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Gosta de rede social?

A vida não é só isso. Então, eu não tenho nenhum tipo de rede nem sigo ninguém, não sei o que está rolando por aí...

Não acha importante estar nelas falando com o seu público, sempre sendo visto?

Falo com o meu público através da minha obra, entendeu? Ele vai gostar ou não... Encontro centenas de pessoas em aeroporto, em outros lugares... Essa é a interação que mais gosto. É uma obrigação profissional e pessoal ter uma rede social? Nada é obrigatório na minha vida. Não sou dependente de nada. Agora, nunca vou ter um Instagram? Pode ser que um dia eu tenha, como colegas meus que se reinventaram nisso aí, o Ary Fontoura, Antonio Fagundes...

E os cancelamentos nas redes?

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Desculpa, e o que é cancelar? Se é sobre o ódio, tem uma frase que ouvi quando fui gravar na Índia que adorei. Tinha a questão da guerra na Caxemira, levanta-se um indiano na altura dos seus 50 anos, um dos coordenadores de produção, e falou em inglês: o ódio não é bom, o ódio só vai dar câncer. Não vale a pena o ódio, vale a pena o afeto e o respeito. Não contém comigo. Sou uma pessoa que tenho minha opinião e só.

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O que pensa sobre a TV aberta, ela está perdendo espaço para o streaming?

As pessoas discutem muito o avanço do streaming e da internet, mas se esquecem. Vocês através da imprensa escrita repercutem, e muito, o que rola na TV aberta. Isso não tem saída. Na América também. A NBC, emissora aberta, cortou a transmissão do Globo de Ouro, o que ela fazia há 30 anos. Não adianta, eu faço televisão há muitos anos, sei que todas essas ferramentas vieram para coexistir. Ai daquela televisão que se descuidar da sua emissora aberta. Tem muita gente que acha que sabe analisar televisão. Eu não analiso, eu vivencio a televisão, por gostar do que faço, por gostar da TV aberta, de fazer novela, sim.

Então, novela é um modelo que não se esgotará?

Claro que não. Porque o mesmo modelo está na minissérie, no streaming, no seriado americano ou inglês. Os ingleses continuam fazendo telenovela. Não se iludam, sabe, porque senão fica uma análise muito linear e não aprofundada. A análise aprofundada que eu te dou como alguém que já participou de workshops fora do País, eu não posso te falar muito sobre isso porque parece um exibicionismo.

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Por favor, divida com a gente a sua experiência.

Já participei de workshops na década de 80, nos estúdios da NBC, em Burbank, em Los Angeles. Eu já fiz muita coisa nessa minha vida aos 72 anos de idade. Quando eu tinha 40, já analisava a televisão aberta, a cabo. As várias plataformas vão conviver. Agora, assistir televisão numa telinha de celular é um direito de cada um, mas não conte comigo. É um porre.

Você, ator muito venerado, lida bem com críticas?

Claro que eu lido bem com críticas e acho bem-vindas. Tem muita crítica, porém, que eu já li que era absolutamente... que não correspondia à verdade. Uma das coisas mais perigosas é a crítica da primeira semana de uma novela, é a maior cilada.

Pode dizer quais são os seus próximos projetos?

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Tenho um filme pronto, de direção do Luiz Villaça. Chama "45 do segundo tempo", que é realmente um poema, um primor. Filmamos em 2019, mas aí veio a pandemia e, em princípio, nós não queremos lançar em streaming, mas no cinema, como ele foi imaginado. Uma história de três amigos que se reencontram depois de 40 anos, e cada um repassa a sua vida com muito humor, com muito suspense, e com uma grande aposta.

Mais algum outro projeto?

O plano é fazer a novela do João Emanuel Carneiro, que provisoriamente tem o nome de Olho por Olho. Em 2020, chegou a pandemia e tudo ficou em suspenso, os prazos foram se alterando, e ele continua escrevendo, já fez 40 capítulos e mandou sinopse para alguns de nós, tem 120 páginas.

Com quem contracenará?

Só sei que quem está pré-escalada para a novela, como a Glória Pires, a Letícia Colin, que está aí no ar num excepcional trabalho no GloboPlay, Onde Está Meu Coração. É demais de bom o trabalho dessa menina, tão jovem, tão talentosa. Agora, a novela tem história policial, suspense e alguns personagens que estão sendo guardados a sete chaves. Sei que até o final do ano, até outubro, a gente começa os pré-trabalhos. O tema é pra uma novela das 9.

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Seu balanço da carreira?

O gostoso quando você chega na minha estatura, não 1,64 metros, quero dizer na minha idade, de anos ganhos pela vida e a experiência que a vida me permitiu ter junto à televisão, ao cinema e ao teatro, são 138 personagens que eu vivi na minha vida profissional, são muitos papéis. E isso é bom. Estou com uma novela nesse momento em Portugal, que está em mais 36 países.

A qual novela se refere?

O Tempo de Amar é uma história de época. Passou no Brasil, em 2017. É linda, muito bonita, e está correndo o mundo. E por isso dei entrevistas para publicações latino-americanas, chilenas, bolivianas, de língua hispânica dos Estados Unidos. A minha vida neste ano de pandemia teve tudo isso. Já não sei quantas entrevistas ao vivo fiz na programação portuguesa. A TV Globo, em Portugal, não é apenas uma repetidora, tem lá a Globo Portugal também, com os seus programas.

Você foi vacinado contra covid-19 recentemente.

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Foi emocionante. As pessoas se esquecem que há 14 anos surgiu a vacina contra a gripe. Quando ela começou milhões de pessoas diziam, eu não vou tomar esse negócio. Hoje é uma boa obrigatoriedade, entendeu? Eu vou tomar a minha dose de vacina contra a gripe.

A normalidade volta algum dia? Como?

Acho que sim, mas o que vale é o que a Ciência diz. Mas o que mais quero na minha vida é ir ao cinema, ao teatro, a uma partida de futebol, que coisa gostosa. Mesmo quando a pandemia acabar, acho que durante algum tempo deveremos e seria prudente usarmos ainda a máscara.

O que tem feito em casa?

Eu estou interessado em escrever roteiros. Tenho anotações, histórias guardadas. Isso está gerando uma inquietação minha do ponto de vista ficcional, de criar a partir de alguns elementos que eu tenho em minha cabeça, daquilo que eu já vivi, e também tratar disso na comédia. Acho que está na hora de voltar um programa como o Sai de Baixo, que Luis Gustavo, o Tatá, criou juntamente com o Daniel Filho.

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Conhecia o Paulo Gustavo?

Não tinha intimidade com ele, mas o Brasil perdeu uma grande pessoa. Um brasileiro corajoso, que fez uma família linda com o seu companheiro. E era um grande artista. É uma perda irreparável para o País.

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