Marcela Paes
20 de março de 2020 | 00h30
GUILHEMER WERNECK E TUNEU FOTO: DENISE ANDRADE
“Namastêee!”, diz o empresário cultural Fábio Porchat (sim, o pai do humorista) ao cumprimentar, com um toque de cotovelo, o galerista Ricardo Camargo. A cena, que aconteceu na noite de quarta-feira – enquanto a maioria da cidade quarentena –, se repetiu algumas vezes, com variações de gestos, nunca tocando as mãos. Foi na abertura da exposição Coleção de Um Artista.
“Desde que a gente se proteja, está tudo bem. Não dá pra entrar no clima de pânico, tá todo mundo muito em pânico. Tá um saco ligar a televisão. Convite eu mandei pra mais de mil pessoas, mas sei que pouca gente vem. E você vê, tem música tocando porque na galeria sempre tem música ambiente, mas não é porque eu quero fazer festa! Ninguém vai desrespeitar nenhuma lei, óbvio. Mas minha escola é essa, de receber pessoas”, dizia Ricardo, que, se não houver proibição, pretende deixar a exposição aberta até dia 9 de abril.
De fato, o clima não era de festa – apesar das belas obras em exposição, como trabalhos de Mira Schendel e Alfredo Volpi, pertencentes ao acervo do artista plástico Tuneu. Na entrada, em cima de uma mesa, eram mantidos um grande frasco de álcool gel e um punhado de máscaras – dispensadas pelos poucos convidados. Diferentemente dos seguranças e dos garçons, que circulavam todos de máscaras enquanto serviam uísque, vinho e pedaços de pizza cortados em bandejas.
“Eu pensei: vou chegar e sair, mas estou aqui até agora!”, dizia a jornalista Vanda Furlanetto, uma das convidadas, entre uma taça de vinho e outra. “Também estou aflita de só ter que ficar em casa e gosto muito de arte! Amor, eu estou nas mãos de Deus”.
Para o artista plástico Guilherme Werneck, companheiro de Tuneu, o brasileiro é um povo vaidoso e ainda se sente constrangido de usar máscaras. Ele e Tuneu – que colocaram as máscaras só para o clique acima – se dividem entre São Paulo e a cidade de Pariquera-açu, no Vale do Ribeira, e estavam na dúvida se viriam à abertura ou não, mas foram convencidos por uma mensagem do galerista. “Ele disse que manteria a abertura e seria o único galerista a fazer isso. Achei a ousadia legal, foi um turning point. É um período difícil, mas depois dessa destruição, tenho certeza que vai vir coisa boa. Precisamos rever valores”. /MARCELA PAES
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