De um lado, Camila Pitanga dançava junto à namorada, Beatriz Coelho. Na outra ponta, Vic Muniz ensaiava passos de dança entusiasmado numa roda de amigos, enquanto Marcelo D2 e a mulher, Luiza Machado, observavam o movimento sentados em um canto do salão. A cena descreve um pouco do clima cool do novo Camarote Arara, em seu primeiro ano na Marquês de Sapucaí.
Lá, o all star apareceu muito mais que o salto alto, padrão nos demais camarotes estrelados. Calças de paetê e adereços flúor e neon emulavam os acessórios que são mais comuns nos bloquinhos. Nos banheiros, nada de divisão entre homens e mulheres.
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O número reduzido de fotógrafos e convidados contribuía para o clima relaxado. Celebridades podiam curtir mais à vontade, com raros pedidos de selfie. "No sambódromo, meu carnaval foi todo aqui", disse Camila Pitanga. Marcelo D2 contou que acordou às 5h30 da manhã para ir a um bloco na Penha. "Eu prefiro o carnaval de rua mesmo".
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"Não encontrei o Doria aqui, no Arara, mas perguntaria a ele por que ele não está em SP", disse o deputado federal David Miranda, marido de Glenn Greenwald. Ele revelou à coluna que vai disputar com Marcelo Freixo a vaga do PSOL para se candidatar a prefeito do Rio. E seu colega deputado sabe disso? "Não. O Freixo vai saber quando você publicar". Brincando o carnaval sozinho -- "o Glenn tá em casa com as crianças, ele não gosta de lugar cheio" -- David encontrou Freixo em outro camarote e, segundo contou, cumprimentou-o rapidamente.
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Para o deputado carioca, Freixo "não está condizendo com as diretrizes" do PSOL. "Ele foi para o Congresso do PT, e a fala dele foi sem consultar a base. Isso machuca a base, que tem opinião própria".
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E prosseguiu. "Então vou disputar contra o Freixo para mostrar que o PSOL é raiz, é da militância, é dos protestos. A gente pode fazer aliança com todo mundo contra a barbárie do Bolsonaro mas nunca pode esquecer a nossa essência". Ele também questionou "a quem interessa o apoio de Lula no Rio? Acabar com o PSOL". "Lula tem alta rejeição aqui".
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David, que resistia animado na festa após às 4h, diz ter disposição também para ir a blocos infantis com a família. "Não existe nada melhor na minha vida que meus filhos. Não importa a situação em que eu e o Glenn estejamos. Estou aqui com três seguranças armados, que estão ali do lado de fora, esperando eu sair". Segundo o deputado, ele segue sofrendo ameaças.
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O clima de insegurança e a politização do debate sobre violência não faltaram nas conversas do camarote -- e Marcelo D2 dava o tom. O cantor lança álbum de inéditas do Planet Hemp ainda este ano e adiantou a temática do disco: "Tiro, porrada e bomba. E, claro, antifascismo. No Brasil de hoje temos que ter essa posição. Você viu o negócio da água? A água tava uma merda! O Rio é uma cidade muito pacífica. O governo faz o que quer", disse.
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Nem só de artistas vive o Arara. João Doria foi a cinco camarotes mas o único em que dançou foi no novato. E, assim que chegou no sambódromo, fez questão de prestigiar o governador anfitrião, Wilson Witzel, que comandava outro espaço VIP.
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Passava das 4h da manhã quando Mart'nália deixava o camarote com duas amigas. "Estou achando tudo maravilhoso. Sou Vila Isabel, mas, olha, vou te falar, tá tudo lindo nas escolas que vi. Está difícil este ano". O enredo da Vila tem Brasília como mote.
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A cantora diz que "está tudo muito difícil no País", porém, sobre diversidade, acha que a discussão avança. "Nunca esteve tudo tão claro e discutido. Está todo mundo falando, o assunto está na mesa, as cartas estão abertas, tudo mostrado". Na frisa, acompanhando a Portela, última escola de samba a desfilar, Reynaldo Gianecchini estava com duas amigas e disse estar aproveitando seu único dia de carnaval. Já estava rouco, quase sem voz. Antes do carnaval, passou por vários países e depois do pit stop no Rio, seguirá com a viagem". Na volta, prepara-se para estrear em uma peça. / CECÍLIA RAMOS e MARCELA PAES