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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'Mulheres negras são a base da pirâmide social', diz Djamila Ribeiro, que abre instituto

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Por Marcela Paes
Atualização:

Djamila Ribeiro. Crédito: Flavio Teperman  

Raro caso de acadêmica que também é um sucesso de público nas redes sociais - ela tem cerca de 1,2 milhões de seguidores no Instagram -, a filósofa, escritora e ativista Djamila Ribeiro expandiu ainda mais sua área de atuação.

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Abre na quinta-feira, em Moema, o Instituto Feminismos Plurais, voltado para a educação e bem-estar de mulheres socialmente vulneráveis, sobretudo as negras. "Fui formada por espaços como este", diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista.

 

A sociedade civil vem se organizando cada vez mais para preencher lacunas deixadas pelo governo. Acha que esse é o caminho para melhorar o País?

Não, eu acho que as duas coisas podem funcionar juntas. Temos que cobrar do Estado, inegavelmente. Claro que estamos em um momento muito difícil no Brasil com o corte de políticas públicas. A demanda das pessoas por saúde e por educação é muito grande, tanto que no instituto também vamos oferecer atendimento psicológico e odontológico, mas acho que temos que continuar exigindo que o estado amplie as políticas públicas, que cumpra seu papel. A sociedade civil deve se organizar para criar e para continuar cobrando até porque não temos como suprir a demanda.

 

O Instituto vai atender mulheres socialmente vulneráveis, principalmente negras. Por que é importante olharmos especificamente para esse grupo?

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Elas estão em situação mais vulnerável no Brasil porque são atingidas entre cruzamentos de opressões e têm menos acesso às políticas públicas, menos acesso a uma vida digna de fato. Claro que estamos abrindo todas as pessoas socialmente vulneráveis, mas o foco são as mulheres. Não vamos negar atendimento a homens, mas teremos serviços que vão ser específicos para mulheres, sobretudo para as negras, que são a base da pirâmide social e que são as mais suscetíveis a uma série de violências sistêmicas no País.

Ao longo dos anos você expandiu sua área de atuação para muito além da academia. Gosta de diversificar?

Gosto de pensar que somos várias. Ao mesmo tempo que eu sou escritora também publico autores. Sou professora e ao mesmo tempo  também atuo em  empresas. Não gosto de me colocar numa caixinha, é preciso olhar para todas essas perspectivas.

O que te dá mais prazer no momento?

Hoje é o instituto em si, que é a realização de um sonho, um lugar onde eu posso agrupar várias coisas como lançar livros, dar cursos e receber pessoas. O instituto é algo que tem tomado os meus dias com alegria, é a concretização do espaço físico em que eu posso colocar essas várias perspectivas juntas.

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Você tem 1,2 milhões de seguidores nas redes. Quais as vantagens e as desvantagens da exposição?

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Eu  não sou uma pessoa que é famosa, sou uma pessoa reconhecida naquilo que faço. Acho que essa diferença é importante, porque um número grande de seguidores às vezes não quer dizer nada. A questão é como se usa. Eu uso como uma plataforma para divulgar meu trabalho, debater temas que  acho importantes. O lado bom é que a gente consegue alcançar, evidentemente, um maior número de pessoas e talvez sensibilizar um maior número de pessoas. O negativo é essa coisa de muito ódio nas redes sociais, de fake news, de ataques muitas vezes impensados, desonestos. Toda pessoa visível de alguma maneira está propensa a receber também esses tipos de ataques. A gente sente um pouco desse efeito colateral da acessibilidade.

Você se abala com isso? Como lida com as críticas?

Hoje em dia eu lido muito naturalmente. Entendi que faz parte. Infelizmente, nem todo mundo vai agir de maneira honesta nas redes sociais. Muita gente gosta de engajar conteúdos de ataques a outras pessoas e de mentalizar a vida das pessoas para conseguir atenção. Com o tempo eu aprendi a lidar, isso não me afeta hoje como me afetou no início, quando eu estava me entendendo dentro desse universo.

 

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