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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

José Scheinkman diz que economistas, no atual cenário de extrema liquidez, precisam ser modestos

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Por Sonia Racy
Atualização:

José Scheinkman. Foto: Hélvio Romero/Estadão

Teme-se, pelo mundo, a criação de uma crise, diferente entretanto da que ocorreu em 2008. Não pelo mesmo motivo - créditos imobiliários podres. Mas em razão de uma bolha de "dinheiro". A atual liquidez internacional, somada aos juros baixíssimos, está resultando em uma montanha gigante de investimentos sem rendimento real. Prova disso, aqui no Brasil, é o boom da bolsa que já bateu nos 120 mil pontos, bem como o fluxo intenso de capital estrangeiro entrando no País. 

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Esta coluna procurou o economista brasileiro José Alexandre Scheinkman, radicado no EUA há 30 anos, para explorar sua memória e resgatar o aviso que dava em 2002, a quem o procurava - sobre o financiamento de imóveis nos EUA. Ele enxergou, na época, a distorção que estava se desenhando e suspeitou com todas as letras de um futuro desastre econômico mundial. 

Acontece que o timing dos economistas não é o mesmo dos mercados. E tudo continuou aparentemente tranquilo em 2003, 2004, 2005... até a crise estourar em 2008. Credita-se a previsão desta bolha, a Nouriel Roubini - mas na verdade, muitos outros temiam a mesma coisa e guardavam a percepção para si. Da ciranda financeira criada, participavam investidores, compradores de imóveis, players de mercado, iniciativa privada, pessoas físicas - ninguém queria sair da festa. Ela estava boa, estava durando, e poucos optaram pelo conservadorismo. Muito poucos. E deu no que deu. 

Consultado agora sobre o volume colossal de recursos flutuando na busca de investimentos rentáveis, se isso estaria formando nova bolha, o economista - que não faz previsões explícitas - observou: "O problema hoje é o seguinte: a taxa de juros está tão baixa que, se você simplesmente pegar o lucro das empresas e descontar pela taxa de juros, o preço dos ativos não parecem tão caros". O entrave, segundo ele, esbarra na pergunta: quanto tempo vão durar essas taxas de juros baixas? "Se de repente a taxa subir por conta da pressão inflacionária, podemos imaginar que essa bolha estoura logo." O X da questão é o timing. "Pensa e analisa: por que o Japão está com taxas de juros baixas há tanto tempo?" pergunta.

Para Scheinkman, "entende-se por que os bancos centrais estão cobrando juros tão baixos. Mas por que isso não traz inflação ou por que o Japão não teve inflação esses anos todos, é uma questão a responder". O ex-professor de Chicago, de Princeton e hoje em Columbia, NY, concorda que as empresas japonesas produzem pouco lucro, portanto, não são muito atrativas. "Mas isso não justifica o fenômeno da estabilização dos índices de inflação". Economistas, na opinião de Scheinkman, têm que ter modéstia para dizer "a gente não entende o porquê da taxa de juros tão baixa". 

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 Por outro lado, ele atrela o futuro à velocidade da recuperação mundial pós-covid. "Olhamos o quão rápido isso se dará. O próprio Jerome Powell, do FED, falou essa semana que estava otimista. E que depois da vacinação a recuperação será relativamente rápida..."

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