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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Instante de liberdade

Por Sonia Racy
Atualização:

Bravo!, exclamou Raquel Amaral, anteontem, ao final do concerto de Marcelo Bratke. Nada mais natural se a manifestação tivesse ocorrido na Sala São Paulo ou no Teatro Municipal. Não, ela aconteceu na Penitenciária Feminina do Butantã, onde cerca de 270 presidiárias participaram de evento-piloto organizado pela Secretaria da Cultura do Estado. "Um dia vi alguém gritar bravo na TV e sempre quis repetir, hoje consegui", conta Raquel, condenada a quatro anos e meio por assalto a mão armada. "É uma música diferente, faz bem para a alma."

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Havia na plateia, porém, uma ouvinte experiente: Eunice Cazuni Sinhuk, ex-mulher de um funcionário da Bovespa e também condenada por furto. Antes da audição, ela falava com desenvoltura sobre a afinidade artística entre Bach e Villa-Lobos, dois compositores que fazem parte do programa montado pelo pianista brasileiro. "Vou matar as saudades dos tempos em que eu frequentava a Sala São Paulo e acompanhava os concertos da OSESP", lembra a ex-chefe de cozinha pronta para deixar o presídio em 40 dias.

Diante de um público acostumado a ouvir funk, pagode e hinos religiosos, Bratke se surpreendeu com a reação das internas durante a audição. "Elas chegaram a cantarolar quando toquei as Cirandinhas do Villa-Lobos, não esperava que isso pudesse acontecer", disse Bratke. "Senti aqui uma energia diferente. Elas me ajudaram a tocar." O pianista levará agora o projeto, feito em parceria com sua mulher, Mariannita Luzzati, para outras penitenciárias do Estado de SP, além de apresentações agendadas para Nova York, Londres e Belgrado.

GILBERTO DE ALMEIDA

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