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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Imunologista da USP, filho de feirante, desenvolve vacina brasileira e fala sobre o perigo das variantes da covid

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Por Paula Bonelli
Atualização:

Gustavo Cabral de Miranda. Foto: Jaqueline Dinis

Lançado à visibilidade pública pela pandemia, Gustavo Cabral de Miranda, pesquisador do Departamento de Imunologia da USP, lidera estudos de desenvolvimento de tecnologias de vacina contra covid-19 e outras doenças. "A probabilidade da cepa que surgiu no norte do País se tornar dominante é muito grande", diz em conversa por videoconferência com a coluna. "Todas as variantes que estão no País, até o momento, são mais transmissíveis, mas não mais letais. E precisamos controlar a dispersão do coronavírus com mais força, para evitar o surgimento de novas cepas que sejam capazes de 'fugir' das vacinas ou que se tornem mais letais."

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Miranda aprendeu na Universidade de Oxford, e depois em Berna, na Suíça, o desenvolvimento de imunizantes com a tecnologia VLPs (Virus Like-Particles) ou partículas semelhantes ao vírus, e espera testar em humanos a vacina feita pelo seu grupo com apoio da FAPESP ainda neste ano. Adverte que é difícil prever a data em função da instabilidade e de questões logísticas no Brasil.

Com linguajar fácil, o pesquisador integra a Equipe Halo da ONU, de cientistas que esclarecem ao público informações sobre covid-19 valendo-se de diferentes meios, inclusive o aplicativo Tiktok. Ele compara a mutação do vírus com fotocópias: "Basicamente, é como uma folha cheia de letrinhas, que faz cópias dele mesmo no nosso DNA, mudando as palavras de lugar". Neste processo, porém, problemas ocorrem "enquanto o vírus vai se proliferando o medo é que surja uma variante mais letal com mutações suficientes para escapar das vacinas. E é isso que assusta mais".

Os imunizantes ainda estão funcionando contra covid-19, mas não se sabe exatamente como será com as novas variantes. "As vacinas são desenhadas para não termos uma carga viral muito alta e proteger do desenvolvimento da doença grave, ou seja, mesmo tomando a vacina, podemos pegar o vírus", explica o pesquisador, lembrando que a vacina foi produzida em tempo muito curto, o que era necessário. "Não tinha como desenvolver uma vacina muito certinha. As pessoas podem estar suscetíveis a serem reinfectadas e a passarem o vírus para outros. Isso quer dizer que mesmo vacinados precisamos continuar usando máscara e fazendo o distanciamento social até que a gente controle essa pandemia. Num segundo momento, vamos entrar com uma vacina para proteger do vírus."

Filho de um feirante, do interior da Bahia, Miranda nunca imaginou quando criança que seria cientista. Chegou a trabalhar em barracas de hortifrúti. Achou o caminho dos estudos, depois de repetir a antiga oitava série duas vezes. A história de dele vai virar livro misturando autobiografia, desenvolvimento científico e combate às doenças infecciosas no Brasil, pela editora Fósforo.

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Quando recebeu o convite para escrever a obra, seu impulso inicial foi de recusa. "Achei estranho, recusei, mas a editora é convincente e falou que seria importante para divulgação científica. É um trabalho de popularização do conhecimento científico. Precisamos quebrar barreiras entre universidade e sociedade", conclui.

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