PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'Há tempo o Brasil não é mais um país alegre', afirma a coach Ana Raia

Por Sonia Racy
Atualização:

Ana Raia. Foto: Nicole Gomes

 

O Brasil lidera, entre 11 países pesquisados, casos de depressão e ansiedade nessa pandemia, segundo levantamento realizado pela USP. A coluna conversou com Ana Raia - coach de vida e carreira há mais de dez anos - sobre como melhorar a saúde mental em tempos incertos. "É importante dizer que há tempo, o Brasil já não é mais alegre, por assim dizer", lembrou ela. Em janeiro de 2020, pouco antes da OMS alertar sobre a covid-19, a organização definiu a depressão como pandemia mundial - e o Brasil ocupou a segunda posição nesse ranking.

PUBLICIDADE

O estresse contínuo vivido pelos brasileiros há mais de um ano motivou Ana a criar um programa virtual gratuito para mulheres, chamado Conectar, "é aonde crio um espaço seguro de conexão para que possamos trocar experiências". Para sua surpresa, o projeto já conta hoje com quase duas mil inscritas. "Estamos todos precisando de acolhimento, colo e conexão". Confira a conversa abaixo.

O Brasil lidera casos de depressão e ansiedade durante a pandemia, mostra pesquisa da USP. Como é essa realidade no seu consultório?

Não é diferente. O estresse é contínuo no macro e no micro. O macro foge ao nosso controle total, o micro, no entanto, têm soluções. É possível quebrar o looping, desenvolver novos hábitos para desviar ou minimizar a ansiedade e a depressão para continuar adiante, usar seu potencial e encontrar boas saídas. Mas é importante dizer que há tempos o Brasil já não é mais alegre, por assim dizer. Em janeiro de 2020, antes de alertar sobre a covid-19, a OMS declarou a depressão como uma pandemia mundial - e o Brasil ocupava a segunda posição nesse ranking.

A covid tem aumentado muito o medo nas pessoas, como ajudar a controlar esse sentimento muitas vezes incontrolável?

Publicidade

Acho importante frisar que não existe uma vida sem medo. Faz parte da experiência humana. Existe para nos proteger, nos alertar, sinalizando perigos. Para sair desse estado de sobrevivência e do medo contínuo, recomendo cinco atitudes: 1. Coloque-se voluntariamente em pequenos desafios cotidianos e os vença no seu ritmo. 2. Crie momentos para o cultivo de emoções positivas, como a gratidão e o bom humor. 3. Contribua, ajude alguém. 4. Desligue-se da realidade diariamente por um instante. 5. Tenha clareza de quais são as situações que pode controlar versus situações que não pode. A partir daí, direcione sua atenção para o que pode controlar.

 Quais são as maiores consequências do isolamento social na saúde mental das pessoas?

O ponto crucial é que essa atitude é contra intuitiva, pois o ser humano existe, é feliz, só tem saúde quando se conecta, cria e contribui com a vida dos outros. No começo do mês criei um programa virtual gratuito para mulheres, chamado Conectar, aonde crio um espaço seguro de conexão para que possamos trocar, falar sobre nossos medos, refletir sobre o momento atual, trocar, encontrar aconchego e escuta. Fiquei surpresa em ter quase duas mil inscritas. Estamos todas precisando de acolhimento, colo e conexão.

O home office veio para ficar. As pessoas serão mais felizes trabalhando de casa?

O home office é uma realidade de uma classe social privilegiada, letrada e digitalizada no Brasil. Para essas pessoas, creio que o formato irá transcender a pandemia, mas de forma híbrida, virtual e presencial, com encontros, dinâmicas de grupo presenciais. Baseio esse meu ponto de vista em alguns fatos. Primeiro: o ser humano é um animal social, aquele cafezinho no meio do expediente é muito bom e faz falta. Segundo: nem todas as pessoas estão mais felizes em seus home offices, o burnout é mais frequente hoje que há dois anos, isso porque nem toda empresa nem todo colaborador colocou limites na jornada de trabalho. As pessoas estão exaustas. Terceiro: o 'zoom fatigue' é tema de matérias e pesquisas, alimentar esse formato sem necessidade é, no mínimo, cruel.

Publicidade

As pessoas vão mudar a forma como enxergam a vida quando acabar a pandemia?

Ao meu ver, isso não será uma regra. A mudança de perspectiva é uma escolha individual. Algumas pessoas irão escolher olhar esse momento como um convite ao aprendizado, vão sair com alguns hábitos transformados e outras lentes para vida. Outros, irão preferir esquecer o que aconteceu, pois a dor incomoda e o caminho mais fácil é esquecer e não transformá-la. /SOFIA PATSCH

 

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.