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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'Acho bobagem, não vou aderir a esse boicote', diz Preta Gil sobre marchinhas

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Por Sonia Racy
Atualização:

Ela foca, agora, nova missão - já mirando o carnaval de 2017 - na qual assume o camarote 2222, hoje comandado por Flora Gil. E adiantou à coluna, durante evento da My.f.t em São Paulo, que pretende mudar algumas coisas. Uma delas, abrir a venda de ingressos. Abaixo, os melhores trechos da conversa.

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Você declarou que vai passar a comandar, a partir do ano que vem, o camarote 2222. Como será essa transição? Na realidade já tem alguns anos que a Flora quer que eu vá me empoderando do camarote, mas eu achava que ainda não era o momento. Só que o ano de 2106 serviu um pouco de alerta para a Flora - que sempre foi muito workaholic - ela realmente queria uma vida mais calma. Por uma questão muito natural, ela acha que o camarote não pode acabar e eu sou a filha que tem atributos para seguir com o camarote. Eu aceitei assumir, mas vou mudar algumas coisas.

Que tipo de coisas? A partir do ano que vem o camarote vai ter uma parte vendida para o público. Há 19 anos ele funciona só para convidados e acho que está na hora de dividir isso com outras pessoas que curtem o carnaval de Salvador. Gosto de compartilhar as coisas boas da minha vida, tirando o meu marido - que é só meu (risos). As minhas outras coisas - amigos, felicidade, trabalho -, eu gosto de dividir.

Foi nessa toada de compartilhar que você decidiu colocar seu bloco em Salvador sem cordas? É. Ele já é sem corda no Rio. Eu acredito muito que o carnaval de rua é democrático. Acho que existem outras opções como bailes, desfiles em avenida, mas a rua é do povo. Eu fui criada assim. Na minha adolescência em Salvador o bloco era na "pipoca", e eu acredito nisso. Claro que existem várias maneiras de fazer um bloco, mas eu, Preta, na rua, sou do povão.

Anitta tomou a mesma decisão. Acha que isso pode se tornar um movimento? Sim. Na Bahia, cantores como Daniela Mercury, Saulo, Ivete Sangalo e Psirico já fazem esforços particulares e coletivos para baixar a corda em algum dia do carnaval. Na realidade, isso é a retomada de um estilo de carnaval dos anos 80, de que eu participei muito.

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O que acha das discussões sobre as marchinhas de carnaval consideradas homofóbicas, racistas e preconceituosas? Acho que esse cunho está na cabeça das pessoas. Fui criada a vida inteira cantando essas marchinhas e nunca me senti ofendida quando cantam "Mulata bossa nova/ Caiu no Hully Gully/ E só dá ela". Temos que pensar que essas músicas foram escritas nos anos 50, 60, quando muitos desses assuntos eram tabus. Carnaval tem uma função de trazer à tona certos assuntos de maneira engraçada, lúdica. Isso é história. É importante que os jovens escutem essas músicas e saibam que existem outras maneiras de ser engraçado e ser divertido hoje em dia. Enfim, acho uma grande bobagem, não vou aderir a esse boicote, vou cantar todas essas marchinhas como todos anos eu canto. Existem movimentos que são muito radicais, que no lugar de incluir e tornar a sociedade mais igual, estão conseguindo separar de novo as pessoas. Isso sou absolutamente contra./ MARILIA NEUSTEIN

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