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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

"Ele é pura coragem"

Por Sonia Racy
Atualização:

 Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

O que dona Angela vai dizer ao filho Thiago Silva, capitão e homem de confiança de Luiz Felipe Scolari, antes de ele entrar em campo, hoje, no Itaquerão - na estreia do Brasil contra a Croácia? "Que o meu sonho já está sendo realizado. Ele tem de buscar o dele sempre, todos os dias. E, para isso, basta que se mantenha humilde e forte, como sempre foi. Um grande profissional e um grande homem", declarou, em conversa com a coluna.

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A cena esteve muito perto de não acontecer. Há nove anos, ela achou, por um momento, que o filho não conseguiria se recuperar de grave enfermidade. Muito antes de se imaginar entre os titulares da seleção brasileira, Thiago esteve à beira de abandonar o futebol - vítima de uma tuberculose que, por pouco, não lhe custou parte de um dos pulmões. Hoje, com duas medalhas olímpicas no peito (bronze em Pequim, prata em Londres) e tendo levantado a Copa das Confederações, ano passado, o zagueiro da seleção é um jogador (quase) realizado. Casado, pai de dois filhos - Isago, de 5 anos, e Iago, de 2 -, ídolo do Fluminense, do Milan e, atualmente, do Paris Saint-Germain, ele sonha todos os dias com a taça mais desejada do futebol. Palavra de dona Angela. Faz sentido, já que, como líder da seleção, será dele - caso Neymar e cia. conquistem o título, dia 13 de julho, no Maracanã - a honra de erguer a Taça Fifa e entrar para a história, ao lado de Bellini, Mauro, Carlos Alberto Torres, Dunga e Cafu.

A mãe do capitão contou também como Thiago Silva começou a carreira ("era volante"), falou sobre os tempos sombrios na primeira passagem pela Europa ("o maior sofrimento da minha vida") e a ressurreição. A seguir, os melhores momentos da entrevista.

Qual a emoção de ver o Thiago na seleção?

Imensa. É uma conquista muito importante, uma coisa maravilhosa. Ele lutou muito por isso. Muito mais do que muita gente imagina. Ele é pura coragem! E jogar nesta nossa Copa, no Brasil, é ainda mais especial.

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Desde pequeno ele era ligado em futebol?

Sempre. Era muito pequenininho e já tinha uma curiosidade danada por futebol. Vivia com a bola, jogava sempre que podia. Ser jogador era um sonho na vida dele. O Thiago começou em escolinha de futebol, aos 7 anos, no núcleo do Fluminense, na zona oeste aqui do Rio. Chamou a atenção dos treinadores e foi para o CT do Fluminense. Mas teve poucas chances por lá.

Jogando na zaga?

Não, ele era volante. Perto dos 16 anos, fez testes no Madureira, no Olaria e no Flamengo. Mas não passou. O teste no Flamengo foi o que deixou o Thiago mais chateado, porque não deram muita atenção a ele.

Em seguida, ele se mudou para o Sul do País?

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Foi em 2000. Um amigo do Paulo César Carpegiani viu o Thiago jogando pelo Barcelona - o Barcelona aqui do Rio, viu? - e o levou para o RS Futebol, lá em Alvorada (no RS). Em seguida, já estava nas seleções de base do Brasil.

Ele estava no Juventude, de Caxias, quando foi vendido ao Porto, em 2005. Como foi essa transferência?

Ah, uma emoção muito grande ver ele tão valorizado, né? Aos 20 anos e já jogando em um grande clube da Europa. Mas, ao mesmo tempo, começava ali um momento de muito drama para o Thiago. Ele pegou tuberculose...

Deve ter sido um período muito crítico para ele.

Foi o pior momento da vida dele e da nossa. A situação era muito delicada, ele estava longe de nós. Ficou doente e foi emprestado para o Dínamo de Moscou. Essa segunda transferência piorou ainda mais a situação. A impressão que a gente tinha, quando ele ficou doente, era de que ele estava com dengue ou algo parecido. Estava com febre, tossindo muito, mas a gente achava que era, no máximo, uma gripe forte. Só que os médicos do Porto não perceberam a gravidade - se tivessem descoberto, o tratamento teria sido mais fácil. Aproveitaram que ele ainda estava em pé e o transferiram para o Dínamo.

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A situação piorou por causa do frio na Rússia?

Também, mas acho que o maior problema foi que trataram muito mal dele lá. O quadro piorou rapidamente, o Thiago passou quatro meses internado. Os médicos do Dínamo diziam que ele nunca ia se recuperar, nunca mais poderia jogar futebol. Falaram até em retirar parte do pulmão... tiraram foi a esperança de ele ser o homem e o jogador que é hoje. (D. Angela faz uma pausa grande) E a gente sofrendo aqui no Brasil, era muito difícil ir até lá. Eu fiquei com ele um tempo na Rússia. Depois, a mulher dele, a Isabelle, foi tomar conta do Thiago.

Como foi a volta por cima?

Ah, foi coisa que não tem nem explicação, coisa divina mesmo. Apareceu um anjo da guarda na vida do meu filho, o Ivo (Wortmann). Ele havia treinado o Thiago no Juventude e calhou de ir comandar o Dínamo no período em que meu filho estava no hospital. Ele arranjou um especialista em Portugal, para ver o estado do Thiago. O Ivo conta que o quadro era muito feio, o Thiago estava muito inchado. Então, resolveu trazê-lo de volta para o Brasil, para se tratar no Fluminense, com os médicos do clube.

O Fluminense acabou se tornando o time do coração dele também por isso?

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Acho que sim. Porque, quando era menino, o Thiago era vascaíno, por influência do pai e do irmão mais velho. Mas virou a casaca! Hoje ele é tricolor, como a maior parte da família - inclusive eu, que já nasci Fluminense.

Ele agora está no PSG. A senhora vai muito a Paris para vê-lo?

Sempre que ele vem para cá a gente se vê. E nos falamos muito pelo telefone. Mas ainda não fui à França por causa do frio. Já disse a ele: "Thiago, quando ficar mais quentinho, você chama a mãe, tá?" (risos). Prefiro o calor aqui do Rio de Janeiro mesmo.

Vai conseguir ver todos os jogos do Brasil na Copa?

A família vai tentar estar em todas as partidas, sim. Se depender da nossa torcida, ele e o time do Felipão já são campeões do mundo! Vamos acreditar sempre, temos de acreditar. /DANIEL JAPIASSU

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