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China agora atua 'como potência global', diz embaixador

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Por Sonia Racy
Atualização:
EMBAIXADOR ROBERTO ABDENUR. FOTO ALEX RIBEIRO/ESTADÃO 

 

 

É com certa surpresa, e com alívio, que governos ocidentais veem o modo como a China, um regime autoritário e centralizado, tem enfrentado o desafio do coronavírus - a ponto de fazer uma autocrítica em nível internacional pela demora em agir. Além disso, Pequim permitiu que outros países entrassem em seu território para retirar seus cidadãos. São atitudes que soariam impensáveis para o Partido Comunista Chinês de duas décadas atrás, quando os seus líderes esconderam a epidemia do SARS e reprimiram com vigor os protestos políticos na Praça da Paz Celestial.

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O embaixador Roberto Abdenur, que comandou a Embaixada brasileira de Pequim entre 1989 e 1993, acompanhou essa mudança de perto e afirma: "Hoje a China é um país moderno, globalizado, que responde por 17% da economia mundial. Sua ampla inserção internacional a faz agir com rapidez e transparência. Ela tem boas razões para zelar com empenho por seus interesses".

O governo chinês tem atuado de maneira "franca e aberta" no combate ao coronavírus. O que explica essa nova atitude? Acabamos de ser informados sobre um comunicado em que a alta cúpula do PC chinês faz uma autocrítica pela demora na reação à nova epidemia e anuncia o compromisso de aperfeiçoar os mecanismos de pronta reação a semelhantes episódios. Isso é uma coisa rara para o PCC e mostra como ele responde com agilidade a novos desafios. O fato é que a China é hoje um país moderno, globalizado, com enorme projeção na economia, na política mundial e no plano militar.

Pode explicar melhor essa mudança de cenário? Lembro um dado concreto: em 2003, quando lá houve uma epidemia de grande porte, a do SARS, o governo chinês demorou a reagir e foi pouco transparente. A China respondia, na época, por 4% da economia global. Hoje responde por 17%, por 13% das exportações e 11% das importações mundiais. Tem interesses em escala global e precisa atuar de acordo. Por outro lado, é objeto da hostilidade dos EUA de Trump e da desconfiança da União Europeia - para não falar de vizinhos como Japão, Vietnã e Coreia do Sul.

Ou seja, tornar-se potência global a obriga a negociar? Agora ela tem de zelar com empenho por seus interesses. Isso explica a surpreendente contenção de Pequim ante os longos meses de protestos em Hong Kong contra o PC chinês. Este não pode permitir que se repita nessa cidade a violenta repressão militar ocorrida na praça Tienanmen (da Paz Celestial) em junho de 1989, episódio que vivenciei pessoalmente como embaixador do Brasil em Pequim. Sabem que o recurso à força teria terrível repercussão mundial, com imensos prejuízos para o país.

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Enfrentar o coronavírus não é um desafio diferente? Diria que Hong Kong e coronavírus são desafios equivalentes aos olhos do regime de Pequim. Ambos exigem prudência, moderação, pragmatismo e cuidados para evitar ações precipitadas e insensatas. / GABRIEL MANZANO

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