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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Biografia trata das virtudes e do tropeço do rabino Henry Sobel

Por Sonia Racy
Atualização:

O rabino Henry Sobel. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Henry Sobel era peculiar, tinha suas contradições e conseguiu impactar a vida de muita gente com sua atuação a favor dos direitos humanos e da democracia. Dedicava-se a promover encontros entre evangélicos, católicos, judeus e muçulmanos, tornando-se amigo do cardeal dom Paulo Evaristo Arns. É o que mostra a biografia Henry Sobel - O Rabino do Brasil, escrita pelo jornalista Jayme Brener, que será lançada dia 17, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

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Autor de quatro livros e conselheiro de Sobel, Brener colheu depoimentos de pessoas que conviveram com o rabino, morto em 2019. Ouviu inclusive gente que põe em questão se foi ele mesmo que conseguiu que o enterro do jornalista Vladimir Herzog, assassinado no DOI-Codi em 1975, não acontecesse na ala reservada aos suicidas mas, sim, no centro do Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo, durante a ditadura militar.

"O suicídio para o judaísmo é uma vergonha, eles eram enterrados nos muros dos cemitérios. A versão oficial da ditadura é que Herzog tinha se matado. Sobel se recusou a endossar essa versão por considerar que não houve suicídio", ponderou Brener em conversa com a coluna. No livro, acrescentou, "há versões muito diferentes sobre se foi ele e se tinha autoridade para isso".

Sobel nasceu em Portugal, cresceu em Nova York e tornou-se figura de destaque no Brasil, onde teve acesso a presidentes da República. "Ele tinha uma dimensão um pouco profética do seu papel. Achava que tinha que pôr o dedo no nariz dos poderosos e assumia causas justas", acrescenta Brener. "Por outro lado, elogiou João Baptista Figueiredo, o último presidente da ditadura militar, e Lula. Gostava muito do FHC. No fim da vida, estava se preparando para ter uma conversa com Bolsonaro."

O autor faz reflexões, ainda, sobre sua imagem no mundo não judaico. "Sobel virou o judeu oficial do Brasil. As pessoas achavam que ele representava a comunidade judaica, mas não. Às vezes, tomava atitudes que deixavam a liderança judaica furiosa."

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Aos 62 anos, o rabino sofreu um baque. O episódio em que foi flagrado furtando gravatas em uma loja de grife na Flórida, nos EUA, resultou em uma breve detenção e penas comunitárias. "Ele era muito ansioso, não conseguia dormir e se automedicava.

À época, o psiquiatra falou em bipolaridade, que lhe causava mudanças bruscas de comportamento. E não foi uma vez só que ele se comportou dessa forma. Depois fez um tratamento médico, mas a carreira dele entrou num declínio acelerado", conclui o biógrafo. |PAULA BONELLI

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