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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Artista coleta pedras portuguesas descartadas como protesto

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Por Marcela Paes
Atualização:

O performer Diego S. Dias. Foto: Felipe Rau/Estadão

Há dois anos o performer Diego S. Dias, ou Diasa, como ele prefere ser chamado, passou a coletar os restos não recolhidos das pedras portuguesas que a prefeitura removia do Vale do Anhangabaú. A retirada foi parte da reforma do espaço, entregue ao público no fim de 2021. Desde então, o artista já acumula cerca de mil delas, que leva para seu estúdio no Largo do Paiçandu. Antes de usá-las, Diego lava pedra por pedra com água sanitária. Sua ideia é emular as calçadas dentro da sala e, assim, questionar a preocupação do poder público com a memória histórica e também com o impacto ambiental da substituição dos paralelepípedos de calcário branco e basalto.

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"Não é uma questão de oposição ou de situação, mas de civilização. Também tem a questão da absorção de calor pelo calçamento, do descarte desse material que já foi coletado da natureza. E, além disso, a indústria do cimento é uma das mais poluentes do mundo", diz Dias.

Lá desde o projeto original do Anhangabaú - criado por Rosa Kliass e Jorge Wilheim - o calçamento vem sendo retirado de outros locais simbólicos do centro de São Paulo, como a esquina da Avenida Ipiranga com a Avenida São João. O plano é substituir as pedras de 23 ruas do centro como forma de melhorar, segundo a gestão de Ricardo Nunes, aspectos como a mobilidade e a acessibilidade dos pedestres, além de facilidades da manutenção da calçada e de serviços alocados no subsolo. "Daria para manter as pedras e em alguns trechos de forma organizada para facilitar a manutenção desses serviços no subsolo", diz Dias.

Eternizadas internacionalmente em projeto de Burle Marx no calçadão de Copacabana, as pedras portuguesas estão em diversas cidades do Brasil e em muitos países lusófonos. No centro de São Paulo, não são tombadas pelo patrimônio histórico. Diego cita os projetos de Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha para o Sesc Pompeia e a Praça do Patriarca, respectivamente, como exemplos a serem seguidos. "No Sesc o chão de paralelepípedo foi mantido  e ela fez uma via retilínea para transito sobre rodas e seguranca. Na praça, o Paulo Mendes fez a reforma sem retirar as pedras", explica. E usa uma frase de Caetano Veloso para ilustrar seu descontentamento com a situação: "No Brasil tudo é construção e já é ruína".

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