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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Ajudar carentes 'será mais fácil', diz nova primeira-dama de SP

Por Sonia Racy
Atualização:

 

Bia Doria ( Foto: Martin Szmick)

 João Doria ter vencido a eleição paulistana no primeiro turno pegou sua mulher, Bia, de surpresa. Tanto assim que a nova primeira-dama ainda não tomou pé da situação. Indagada sobre o que vai fazer com o São Paulo Carinhosa, tocado até aqui por Ana Estela Haddad, ela diz que ainda não conhece o programa. Tampouco opina sobre o Fundo Solidariedade de Lu Alckmin. E pretende se inteirar do que anunciou Marcela Temer, sobre o programa Criança Feliz, semana passada. Promete fazer uma "imersão" nesses assuntos quando o marido assumir.
 
Bia deu entrevista a Sonia Racy e Julianna Granjeia, quinta-feira, no seu amplo ateliê instalado no bairro de Vila Nova Conceição, zona sul de São Paulo, onde trabalham cinco funcionários espalhados entre suas obras - nas quais fica evidente a forte influência do pintor e escultor Frans Krajcberg: foi ele o primeiro a trabalhar com madeira morta no Brasil.
 
A artista tem 56 anos, é mãe de João Doria Neto, o Johnny, de 22 anos, Felipe, 15, e Carolina, 14. Conta que conheceu o novo prefeito há quase 30 anos - ambos trabalhando na Embratur. "O João tinha muitas namoradas, saía com atrizes da Globo e misses. Foi difícil conquistá-lo", diverte-se. Mas um dia veio um convite para jantar e, um mês depois, a sugestão para viajarem juntos. "Ele me fez uma pergunta curiosa: quis saber que malas eu tinha." Na volta da viagem, Bia ganhou um conjunto de malas novas e captou os primeiros sinais sobre o nível de exigência do seu futuro marido.
 
Doria, detalhista, controla tudo o que acontece em sua empresa e, também, em casa. "Se deixo algo esparramado, quando volto esse algo já voltou pro lugar". Esse estilo vai funcionar na Prefeitura? "Vai ser bom, a Prefeitura tem que ser monitorada". Bia, entretanto, acredita que o ex-dirigente do Lide vai aposentar o apito - com o qual comandava os participantes dos eventos organizados pela sua empresa. "Aí vai ser demais, né?"
 
Depois da passagem pela Embratur, ela trabalhou com moda e montou uma loja. A pedido de João, deixou a confecção - conta que o estresse fez com que perdesse dois filhos em gestação. Passou então a se interessar por desenhar joias - atividade da qual enveredou, em seguida, pelo caminho das artes plásticas, com apoio do marido "De uma pulseira de madeira com pedras eu passei para uma escultura. E foi aí que o Krajcberg chegou na minha vida, para ficar."
 
A mulher do novo prefeito acredita que a dificuldade que terá na função de mulher do prefeito será menor do que a de mulher do criador do Grupo Doria. "As pessoas são carentes, precisam de coisas básicas. O Lide exigia mais porque eram pessoas intelectualmente com uma formação", justifica. A seguir, trechos da conversa.
 
Você algum dia imaginou que o João seria prefeito da cidade? 
Sempre tive certeza disso. Tanto é que eu dizia, durante a campanha, que só não vota no João quem não conhece a capacidade de trabalho dele. Eu sabia que um dia ele ia enveredar para a política. Só não imaginei que fosse tão rápido.
 
Como é que você vê a política? Um dos motivos pelos quais o João acabou sendo eleito é que ele não é um político, não é? 
Mas ele vai ser.
 
Qual a sua visão da política? 
Ela é essencial, move tudo. Se não fosse a política, teríamos uma sociedade pior, menos democrática. O que eu acho ruim é a falta de competência das pessoas que atrasam a vida de uma cidade inteira.
 
E a corrupção, acha que também tem atrapalhado? 
Corrupção e pessoas sem capacidade. As duas coisas juntas. Falta de ética também. Nos próximos quatro anos, não vou poder oferecer meu trabalho.
 
Quer dizer que você vai parar com este ateliê? 
Sempre consegui dar conta da casa e de estar presente nos eventos do Lide - que, cá entre nós, é quase uma prefeitura. Acredito até que será mais fácil ajudar a população carente pois ela precisa de mais coisas básicas, como saúde e educação. O Lide até exigia mais porque eram pessoas intelectualmente com uma formação. Então, você tem que estar mais informada. Eu vou dar superconta. E não quero parar com a arte, pois a arte me alimenta.
 
Como você imagina incluir o que sabe da arte no apoio à população da cidade? 
Você sabe que a arte é transformadora, não? A arte é a mãe de todas as culturas. Então você, através da arte, pode mudar muita coisa. Muito da violência que vemos à nossa volta é ligado à desigualdade social. Imagina se, por meio da arte, por meio da reciclagem - meu trabalho é de reciclagem da natureza morta - eu conseguir ajudar. E se eu pegar esses desmanches de carros e amassar e transformar em arte? Acho que transformação é importante, acho importante isso de a pessoa estar em casa, poder fazer crochê e vender.
 
Você disse não conhecer o São Paulo Carinhosa. Você não conversou sobre o seu papel na Prefeitura ainda?
Não, a partir do momento em que o João assumir vou fazer uma imersão. Mas durante a campanha eu o acompanhei muito nesses lugares e vi que falta conhecimento para as pessoas. Não adianta fazer qualquer artesanato que não vende, tem que ser algo grandioso para dar bons lucros. Eu sei como se faz uma bandejinha boa para vender, por exemplo.
 
Você comentou que essa sua nova tarefa em sua vida foi imposta, não foi de forma opcional...
É, ela me foi imposta e eu relutei muito porque essas coisas dão muito trabalho e eu tenho meus filhos para cuidar. Mas eu sabia que o João ia dar um jeito. Ele é muito esperto, ele foi quietinho e foi me levando. Quando eu vi, já tinha assumido compromissos com padre, com freiras, com entidades.
 
Como foi andar pela cidade nas regiões mais carentes? O que você viu de bom e de ruim?
O que vi de bom foi que as pessoas acreditaram no João, confiaram nele. De ruim foi a desconfiança deles quando vai alguém pedir voto. E o que mais me chamou atenção foi a situação carente das pessoas. Até em nível emocional. Um abraço, um olhar, um carinho. Às vezes você acha que a pessoa vai lhe pedir alguma coisa, mas não. Ela só quer que você a olhe nos olhos, pronto. É carência. É aquilo de querer que alguém olhe para ela, por ela. E não precisa de muita coisa. É dar o básico, mobilidade urbana, escola, saúde. E emprego, trabalho. Não adianta boicotar empresários. Trabalho todo mundo quer.
 
Você ouviu muitos pedidos? 
De emprego. As pessoas nem pedem muita coisa, sabe, elas pedem é trabalho.
 
O que aconteceu em Campos do Jordão, com a casa de vocês e com o terreno supostamente invadido? 
O João não tem culpa. Eu que plantei árvores em uma área que achei abandonada. Falaram que a gente não podia plantar, que a área era da prefeitura. Ai o João foi lá, negociou, mas não adiantou. Tacaram máquina e arrancaram todas as araucárias... Uma viela sanitária onde ninguém passa.
 
Mas você cercou a área? 
Fechamos porque não tinha por que passar pela área. Era uma mureta para a água não descer. Podiam ter quebrado só isso, mas arrancaram as araucárias também. Eu não lembro quantas, eu sei que fui ao horto, comprei, meu caseiro ajudou a plantar - e agora não tem mais.
 
Como pretende lidar com seus filhos - que, tendo agora um pai prefeito, vão ser tratados de modo bem diferente, principalmente na escola? 
O mais velho, Johnny, já entendeu. O mais novo, Felipe, está tendo mais dificuldades. Ontem (quarta-feira, 5) houve protesto de bicicleta na rua e ele não conseguia chegar em casa. Quando chegou, chorou. Ele não gosta de assédio. Estamos até com psicólogo debatendo junto o assunto. Talvez a gente o mande estudar fora, como ele tanto quer. Já a Carolzinha não está nem aí. Para ela, é tudo festa. Mas o Felipe é uma pessoa sensível e está sofrendo.
 
E você? Vai se acostumar com a ideia de não poder mais ir a lugar algum sem ser notada? 
Não ligo pra isso. O único problema vai ser eu me policiar na minha liberdade de expressão, na maneira como me visto. Normalmente, saio na rua de qualquer jeito, não me arrumo para ir a lugar nenhum. Mas vou me policiar. Eu já me policiava no Lide. A única coisa é que eu sempre fui uma pessoa espontânea e muito transparente, eu não tenho nada a esconder.

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