Direto da Fonte
06 de junho de 2013 | 01h14
Foto: Adriano Moretto/Dourados News
Os índios terena se recusam a sentar com a comissão do CNJ sobre a questão indígena em Buriti, Mato Grosso do Sul, caso Gilson Rodolfo Martins – indicado na categoria técnico – esteja presente. O arqueólogo é tido como “ligado aos fazendeiros”.
Motivo? Em 2004, Martins elaborou parecer contrário à ampliação da reserva indígena de Buriti de 2.090 para 17.200 hectares. O documento fez parte de ação judicial contra a União, a Funai e a Comunidade Indígena Buriti, impetrada por fazendeiros da região – que acabaram ganhando o processo.
Procurado, o arqueólogo atirou: “Se os índios querem uma comissão só de índios, que não compareçam”. Definindo-se como neutro, declarou ser “contra a ditadura da maioria sobre as minorias e contra a ditadura da minoria sobre as maiorias”. Acha que qualquer avaliação técnica que tenha pontos que não agradem os índios é rejeitada pelos próprios.
E mais. Embora reconheça a comissão como uma “iniciativa bem intencionada”, não vê com otimismo seu resultado. “A discussão deixou de ser jurídica, tomou um caminho político”. O arqueólogo defende como solução mudança no Estatuto do Índio – que, atualmente, não prevê indenizações a proprietários de terras que tenham de deixar os locais estabelecidos como reservas.
O parecer de Martins foi feito para contestar laudo de Jorge Eremites de Oliveira – documento também usado na briga entre fazendeiros e índios. Em conversa com a coluna, Oliveira afirmou que não aceitaria a mesma posição de Martins no comissão. “Não me sinto à vontade, depois do estudo que fiz, em participar dessa mediação.”
Divergências à parte, os dois arqueólogos defendem ponto em comum: será um erro se o governo federal oficializar participação de órgãos ligados à agricultura, como a Embrapa, na demarcação de terras indígenas. Hoje, só a Funai pode estabelecer as delimitações.
Em tempo: Oliveira defende a tradição indígena na região e a ampliação das terras em Buriti. /THAIS ARBEX E MARILIA NEUSTEIN
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