UM TRIBUTO A NYDIA LICIA

Texto que escrevi para ser lido no palco do 17.º Prêmio Femsa, em homenagem à atriz e produtora Nydia Licia.

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Por Redação
Atualização:

 Foto: Estadão

"- No fim do mês passado, dia 30, ela fez aniversário. Já são 84 anos de muito carinho, talento e generosidade artística. Nascida na Itália, em Trieste, e estabelecida no Brasil desde os 13 anos de idade, Nydia Licia Pincherle Cardoso marcou época como grande empresária teatral, autora, diretora, produtora e atriz.

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 - Intérprete de destaque na primeira fase do Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, Nydia Licia brilhou durante anos nos palcos paulistas, ao lado de nomes míticos como Cacilda Becker, Ziembinski, Adolfo Celi, Walmor Chagas, Eva Wilma, John Herbert, Yara Amaral, Alfredo Mesquita, Décio de Almeida Prado e, claro, o inesquecível Sergio Cardoso, com quem foi casada e montou sua companhia teatral.

 - Participou de montagens antológicas de Hamlet, Entre Quatro Paredes, Ralé, A Raposa e as Uvas, A Ronda dos Malandros, Boeing Boeing, Hedda Gabler e Um Dia na Morte de Joe Egg, entre tantas outras.

 - Fez filmes, telenovelas e escreveu livros importantíssimos, como as biografias de Sérgio Cardoso, Raul Cortez, Rubens de Falco e Leonardo Villar, além dos autobiográficos Eu Vivi o TBC e Ninguém se Livra dos Seus Fantasmas.

 - Em 1956, inaugura o Teatro Bela Vista, que hoje é o Teatro Sérgio Cardoso.  Já em 1958, fez seu primeiro infantil, A Menina Sem Nome, de Guilherme Figueiredo. Nos anos 70, alugou o palco de um colégio de freiras na Rua Domingos de Morais e criou ali o Teatro Nydia Licia, que durou 14 anos, sempre voltado principalmente para as produções infanto-juvenis. 

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 - Ali, produziu clássicos como Pinóquio, Cinderela e muitos outros, mas logo se uniu a um competente grupo de autores e, juntos, todos começaram a escrever os próprios espetáculos, como Este Mundo É um Arco-Íris, Libel - A Sapateirinha e Como Era Verde o Meu Jardim.

 - Para Nydia, produzir teatro para crianças e jovens significa prestar muita atenção em itens como música, dança e cenografia. "Capricho nisso é fundamental", diz ela, "porque criança sabe ser exigente."

  - Em suas produções, havia silêncio absoluto nas plateias. "Criança em silêncio é sinal de que estão gostando", ensina a mestra. "Quando querem subir no palco e entrar no meio do cenário também significa que estão gostando. A peça só é ruim quando fica aquela correria louca pela sala."

 - Ela é mãe coruja da médica Sílvia, que aos 15 anos assinou o cenário de uma peça infantil, atuou em outra e escreveu ainda outra, virando a fotógrafa oficial das produções de Nydia. Tem dois netos, o pintor Pedro e o músico João, que, na infância, acompanhavam a vovó Nydia em apresentações de ópera. "Ópera é uma arte completa para crianças", diz ela. "Os pais deveriam prestar mais atenção nisso."

 - Sempre alegre, carismática, animada, ela nos ensina mais e mais. Nydia diz, com conhecimento de causa: "Teatro didático pode ser muito chato, mas o teatro também não pode ser deseducativo!" E mocinha muito boazinha ou vilão muito maldoso, ela também não recomenda. "Não é assim na vida real, o mundo não é tão maniqueísta", explica ela.

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 - Quando a peça era voltada para os jovens, Nydia Licia se preocupava com a contextualização histórica. Ela própria escreveu, por exemplo, Esta Noite Falamos de Medo, em que começava com Adão e Eva no Paraíso e terminava com as profecias do fim do mundo, por Nostradamus, passando por referências da história como o nazismo, a escravidão, a Revolução Russa e até a Ku Klux Klan. Sem medo de abordar temas tabus, foi uma pioneira corajosa, que merece todo nosso reconhecimento. Este ser de luz nos faz lembrar sempre de como as artes cênicas são fundamentais para a formação de nossas crianças e jovens. "

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