Quem acompanha o teatro infanto-juvenil que é feito em São Paulo conhece muito bem o encenador Vladimir Capella, muito premiado e reconhecido, que já nos brindou com espetáculos inesquecíveis como Maria Borralheira, Píramo e Tisbe e Miranda. Abaixo, três perguntas que fiz pra ele, especialmente para vocês, leitores deste blog. Vamos aprender com Capella?
1) Você acaba de realizar 'O Colecionador de Crepúsculos', um grande espetáculo sobre Câmara Cascudo, um craque no aproveitamento de causos e literatura oral. Quem você acha que é hoje um grande nome da cultura popular que renderia um belo espetáculo para crianças?
Vladimir Capella - Meu trabalho está muito vinculado ao passado. Não consigo me imaginar trabalhando em um texto/espetáculo sobre alguém, uma personalidade que esteja atuante no momento agora. Sinto que é necessário um tempo grande, um distanciamento para poder falar ou prestar tributo a alguém. Mas, se eu tivesse que escolher uma pessoa, creio que seria Chico Buarque de Hollanda.
2) Você tem usado basicamente os mesmos profissionais para atuar em seus espetáculos, como os cenários de J. C. Serroni e a trilha sonora de Dyonisio Moreno, entre outros. Você acha que o segredo de uma boa produção é a continuidade de trabalho com profissionais com quem você tenha afinidade ou arriscar também é um caminho saudável?
Vladimir Capella - As duas coisas são possíveis e válidas, mas ambas têm vantagens e desvantagens. O novo pode ser muito saudável, estimulante e provocar mudança que, às vezes, por resistência ou acomodação, a gente não percebe que são necessárias.O problema é correr o risco, nas condições em que trabalhamos. Esse é o grande entrave para as novas experiências e parcerias. O tempo que se tem para produzir um espetáculo é mínimo e qualquer deslize pode botar tudo por água abaixo e aí não dá mais pra consertar, nem isso é possível, é irreversível. Agora, profissionais que atuam há mais tempo juntos têm mais chances de acertar.
3) Você pode contar para os leitores desse blog como é seu processo de escolha de elencos? Pois seus elencos são sempre numerosos, e com grande número de atores jovens e inexperientes. Deve ser uma das fases mais trabalhosas de suas montagens, não?
Vladimir Capella - Determino o perfil que preciso para a montagem e escolho os atores através de divulgação em escolas de teatro, boca a boca e até internet. Depois, faço um workshop com os atores escolhidos e durante essa semana de trabalho acabo definindo o elenco. Isso evita os famosos testes que, além de constrangedores, não conseguem mostrar a capacidade real do ator. Pelo menos na minha avaliação. E assim, do jeito que tenho feito, ninguém se sente usado, consigo ver melhor as possibilidades de cada um e é muito divertido pra todos.