A ideia do Cachorro Verde surgiu em 2007, quando Sylvia, formada em jornalismo e recém-ingressa na faculdade de Medicina Veterinária, ouvia falar dos benefícios da BARF (sigla em inglês da expressão "dieta à base de ossos e comida crua") para cães e gatos. Em 2008, quadros alérgicos apresentados por seus cães, que se alimentavam da ração de mais alta qualidade no mercado, motivaram-na a testar a dieta natural. "Em cerca de duas semanas, todos os quadros alérgicos haviam cessado", conta a veterinária que, naquele momento, abria os olhos para uma novidade no campo.
Sylvia Angélico mantém hoje um serviço de consultas personalizadas. Ela atende em domicílio - na grande São Paulo e, se for o caso, em algumas cidades do interior. Sylvia prefere esse tipo de atendimento ao de clínicas convencionais, pois permite a observação do ambiente do animal: "Eu fico de olho em tudo: se a casa tem crianças, se a família tem outros animais, onde o cachorro dorme, como ele se comporta". A consulta pode durar até 2 horas e meia, e custa 120 reais. A veterinária então traça um perfil do paciente e formula uma apostila com uma dieta detalhada específica para o caso e um plano de manejo para o animal: "Não adianta um cão obeso comer uma dieta balanceada, se ele não tiver uma rotina de exercícios", exemplifica.
A trajetória da veterinária jornalista não foi fácil. Sylvia Angélico teve que driblar uma comunidade de profissionais da área veterinária totalmente fechados a inovações no setor alimentício. Ela lamenta o preconceito - "é difícil trabalhar quando todos estão contra você" -,mas tem esperanças de que as coisas melhorem: "Metade dos proprietários já mistura comida à ração de seus bichos", conta. "Não vai demorar muito até que eles percebam que há veterinários dispostos a ajudá-los a fazer isso", completa. Márcio Brunetto, professor de nutrição animal da Faculdade de Medicina Veterinária da USP, reconhece os benefícios da dieta caseira, mas orienta precauções: "Trata-se de uma opção interessante, desde que a recomendação dos ingredientes e quantidades prescritos na receita sejam levados a sério". Segundo ele, pelo menos 40% dos proprietários que arriscam a alimentação natural acabam, geralmente por falta de tempo, substituindo itens da dieta por conta própria. O professor também alerta quanto aos possíveis riscos da ingestão de alimentos crus: "Recomendamos dietas cozidas, pois há relatos de contaminação bacteriana e intoxicações consequentes do consumo de comida crua".
Os números do Cachorro Verde, no entanto, não mentem: "100% dos casos de vômito crônico que eu tratei com alimentação natural apresentaram melhora", conta Sylvia. Segundo ela, as outras afecções vêm mostrando uma média de 70% de sucesso. "Consegui livrar um beagle de dois anos de idade com quadro de gastrite crônica de uma maleta diária de medicamentos usando apenas a dieta natural", lembra a veterinária, satisfeita com os resultados. "A ração, por ter muita farinha, não é um alimento fisiológico, o que faz com que muitos cães e gatos - animais carnívoros - não se adaptem a ela", justifica. O professor Brunetto discorda: "A farinha da ração é derivada de subprodutos de origem animal, sendo altamente aproveitada por ambas as espécies".
Com seu espaço no mercado veterinário praticamente consolidado, Sylvia Angélico já tem propostas para lançar um livro sobre o Cachorro Verde. Todo o contato dela com o público - inclusive o angendamento de consultas - é feito por meio do site. Há uma lista de espera, o que faz com que a veterinária demore cerca de uma semana para responder cada mensagem. Portanto, ela mesma recomenda: "se for urgente, procure uma clínica". E, como santo de casa não faz milagre, Sylvia assume que ainda não conseguiu eliminar a ração de suas compras do mês: "Meus quatro cachorros se alimentam de comida natural, mas tenho um gato teimoso, que só quer comer ração".
(com colaboração de Júlia Bezerra e fotos de FotoPets e Nara Strappa)