E o que fez o staff de Edir Macedo? Percebeu que a situação era ridícula e passou a dar liberdade ao autor, que, cá entre nós, não é nenhum insano, sabe bem o que faz e, afinal, não foi contratado justamente em função de seu histórico?
Nada disso. A direção preparou uma cartilha do que pode e do que não pode. Keila Jimenez conta na edição desta sexta-feira do Caderno 2 que Muniz e Coqueiro tomaram conhecimento das regras a seguir por meio de Iran Silveira, diretor de Teledramaturgia da casa.
Todos os cortes dizem respeito a cenas de sexo, não sexo explícito, longe disso, basta uma insinuação. Pudor sem cabimento e bem ao modo do cinema norte-americano, que a Record incorpora com orgulho. Ou seja: tudo bem se transbordar da tela o sangue derramado nas cenas de violência (e os telejornais da casa também adoram o cardápio em questão). Mas sexo, oh, que horror! Ora, se a ideia é preservar as crianças na sala (o que nem cabe no caso de "Poder paralelo", que vai ao ar depois das 22 horas), pense bem, bispo Macedo: violência sempre foi item mais nocivo para a formação do indivíduo do que sexo com romance.
Minha defesa é a seguinte: todo mundo (ou quase) há de fazer sexo algum dia na vida, mas nem todo mundo, ou menos de 20% do mundo, pra ser bem pessimista, apertará um gatilho ou testemunhará um homicídio ao vivo. Logo, tiroteio tem de ser, e é, ingrediente mais indigesto aos olhos humanos do que sexo romanceado, por mais pudor que caiba a qualquer cidadão.
E outra: a censura da Record a Lauro César Muniz só navega contra o largo assédio da emissora às grifes da Globo, espelho que a TV de Edir Macedo persegue com tanto afago orçamentário. O sujeito que pensava duas vezes antes de ouvir uma proposta da Record passa agora a pensar 10 vezes (ou a multiplicar em 10 vezes o seu preço, a depender dos interesses de cada um) para se permitir seduzir.
Santo profissionalismo.