Morte de Talma acelera fim de uma era

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Por Cristina Padiglione
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Roberto Talma foi peça fundamental na engrenagem que criou o "padrão Globo de qualidade", conceito estético e de conteúdo que diferenciou a emissora de suas concorrentes, num tempo em que meia dúzia de canais abertos disputavam a atenção do telespectador. Sua saída de cena acelera o fim de uma era em que a TV era o meio absoluto de entretenimento, quase único, em mais de 90% dos lares. Novelas, shows, séries e auditórios fazem do currículo do diretor um almanaque da diversão eletrônica da era pré-internet, pré-mobile e até pré-controle remoto.

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Não que ele tenha se ausentado do ofício nas últimas duas décadas, longe disso. Mas fez TV ao vivo, vibrou com a chegada do videoteipe, assistiu à mudança de comportamentos de um público que aprendeu a trocar de canal e a desviar sua atenção para uma segunda tela. Houve um tempo em que a plateia esperava, ávida, pelo lançamento do novo videoclipe de seu artista no Fantástico, toda semana, e Talma fez parte disso. MTV e YouTube eram então mera ficção científica.

O poder da Globo naquele contexto acabou por criar uma geração de altíssima autoconfiança - em muitos casos, beirando a arrogância. Em 2001, como diretor dos especiais de Roberto Carlos na Globo, Talma foi acompanhar um ensaio do Acústico MTV com o Rei. Chegou acompanhado de uma assistente que trazia, numa maleta, uma câmera profissional. Foi bem-vindo no local, mas gentilmente convidado a se retirar quando anunciou que filmaria o ensaio. Àquela altura, a MTV ainda negociava a exibição do Acústico de RC com a Globo, que acabou vetando sua exibição.

Talma era de uma turma que aprendeu a fazer TV experimentando as limitações do veículo, passando, para isso, por todas as etapas do processo de produção. São profissionais que aprenderam com o erro, mas, ainda bem, acertaram bem mais que erraram.

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