Imagine a cena:
Rodrigo Santoro entra numa saleta de proporções modestas, põe-se diante de um sujeito que veste paletó listrado verde abacate com camisa estampada, para pedir uma chance na carreira de ator.
O produtor, figura encarnada por Serginho Groisman, diz que ele, com perdão do mau jeito por ter de dizer isso, é até bonito.
"E isso é ruim?", pergunta o aspirante a ator.
"Péssimo", diz o produtor. "Veja por exemplo o Robert De Niro. É bonito? Não."
"Mas eu sou um ator. Eu posso virar essa vaca", garante Santoro, apontando para uma vaquinha bibelô sobre a mesa do produtor.
"Vira, então", desafia o outro.
O ator se concentra e emite um mugido profundo: "Tem que vir lá de dentro, vem daqui", explica Santoro, apontando para o lado esquerdo do abdômen.
O produtor não se convence. Diz que esse nome, Rodrigo Santoro, não vai pegar. E que é melhor que ele procure outro nome e outra coisa para fazer. Oferece-lhe então um trabalho como príncipe num baile de debutante em cidade bem distante, por R$ 100,00, menos a comissão de 20% cabível a ele, produtor e arremata: "Não vejo você atuando com a Cameron Diaz, com o Jim Carrey, não vejo você no Carandiru nem no papel de um jogador de futebol."
A conversa entre os dois inaugura um novo quadro do Altas Horas, que estreia neste fim de semana,consumando o 12º ano do programa na Globo.
É o produtor, figura que existe aos montes por aí, em geral insensível para perceber talentos em potencial e disposto a dizer sempre NÃO.
A conversa corre sem script, ao sabor de cada um que ali se senta. E Groisman endossa sua veia dramatúrgica com louvor.