Debate 'à francesa' é inspirado no modelo americano

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Por Cristina Padiglione
Atualização:

Repare na simplicidade da ideia e na inevitável eficiência de um debate entre candidatos a um cargo público, no caso, o mais alto da França, em que um tem de olhar para o outro. Senão o tempo todo, em algum momento, sim, os olhares vão se cruzar entre dois sujeitos sentados em extremidades opostas de uma mesa quadrada. Até porque, se não for para olhar para os mediadores, sentados ali na aresta lateral, o cidadão não poderá desviar seu foco para o teto ou para o dedão do pé. Não pegará bem entre os eleitores-telespectadores.

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Assim foi o último encontro pela TV entre o presidente-candidato Nicolas Sarkozy e o socialista François Hollande, na noite de quarta-feira, transmitido aqui com poucas horas de delay pela TV 5.

Por esse prisma, pode-se dizer que o verdadeiro debate à francesa, como sugere o cinismo implícito na expressão, é o que se faz aqui, modelo inspirado na TV americana, desde os idos de Nixon X Kennedy. Os adversários não se entreolham e a disposição do cenário facilita tal descaso no modelo mais vigente até hoje, com púlpitos posicionados quase paralelamente, onde cada um fala apenas à própria câmera. Quer coisa mais fria?

Isso tudo, salvo exceções em que a Band promoveu uma mesa em forma de ferradura em primeiros turnos com vários candidatos e em que a Globo colocou os adversários finais, já em segundo turno, para transitar pelo estúdio (o que facilita ainda mais a sensação de que um não enxerga o outro de frente).

O debate da vez no pleito francês foi quente, foi bom, teve olho no olho. É o mínimo que a TV brasileira poderia fazer para retomar alguma emoção nesse tipo de programa, engessado há tempos pela lista de regras impostas pelos marqueteiros dos candidatos.

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