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Uma coletânea esdrúxula e distorcida marca os 45 anos do Genesis

Marcelo Moreira

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Por Redação
Atualização:

No ano em que a banda inglesa de rock progressivo Genesis completa 45 anos de fundação, surge no mercado uma das coletâneas mais esquisitas já editadas no mercado fonográfico. "A Glimpse in the Night" é uma compilação composta pro apenas quatro temas, que nada mais são do que medleys reunindo algumas das mais importantes músicas da banda.

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Os mais desavisados não vão entender nada. "The River of Constant Change", por exemplo, tem quase 15 minutos e contém trechos de "The Cinema Show", "Firth of Fifth" e "Fly on a Windshield", além de "Squonk" e "Broadway Melody on 1974" na íntegra. Quem editou praticamente "criou" uma nova música ao associar canções que nada têm a ver entre si.

A faixa seguinte, "Over the Garden Wall", embola ainda mais a situação. Inclui trechos de "Hairless Heart", "Deep in the Motherlode", "I Know What I Like", outros pedaços de "The Cinema Show" e "Firth of Fifth" e termina com "Aisle of Plenty". A mistureba mescla canções cantadas por Peter Gabriel e Phil Collins sem a menor cerimônia, transformando os medleys em autênticos monstros.

É o caso de "The Red Ochre Corridor", que reúne trechos das obra-primas "Supper's Ready", "The Carpet Crawlers" e "Watcher in the Skies" com a interessante "Los Endos", da época em que Collins era o cantor da banda, após a saída de Gabriel. Não faz sentido a associação em um mesmo medley, são canções distintas e de eras diferentes.

 

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 Foto: Estadão

Os puristas detestaram a nova coletânea. Alguns críticos também torceram o nariz, mas não foram tão cáusticos. O problema é que o resultado geral, por incrível que pareça, não ficou ruim. É um CD bastante agradável de se ouvir - com tanta música excelente, não tem como dar errado.

Quem tem bastante intimidade com a obra da banda vai se divertir ao tentar identificar cada uma das músicas após as emendas e mudanças nem tão abruptas de músicas. Mesmo com o resultado até de certa forma interessante, o problema aqui é outro, é conceitual: qual a validade de se fazer essas misturas aparentemente sem o menor sentido, descaracterizando as canções originais e "criando" novas músicas? Qual o sentido disso?

Os medleys são bastante comuns em shows. Artistas de várias tendências costumam fazer, especialmente em festivais, quando o tempo de apresentação é bastante limitado. Paul McCartney, Rolling Stones e The Who tocaram medleys bastante interessantes quando de apresentaram no intervalo da final do campeonato de futebol americano - a NFL - na década passada.

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Nada disso, entretanto, pode ser comparado à mutilação e à "frankensteinização" da obra do Geneis, picotando clássicos e os emendando a outros, aparentemente sem nenhum critério lírico ou melódico. É claro que houve um critério de quem editou o álbum, juntando músicas próximas pelo tema ou pela proximidade melódica, mas é óbvio que há algo de nebuloso na intenção de quem inventou esse projeto.

Será que é válido destrinchar, esquartejar e depois juntar trechos de músicas de forma aparentemente caótica? Será que é válido mutilar obras-primas como as já citadas?

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É uma obra estranha, esquisita, e pode inaugurar uma perigosa tendência no mercado fonográfico. Para encerrar, a última "música": "Walk Upon Stranger Roads", que inclui trechos de "Ripples", The Musical Box", "Supper's Ready", "In That Quiet Earth" e Afteglow".

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