Estadão
14 de abril de 2013 | 08h00
da GloboNews
A década de 80 foi perfeita para a indústria fonográfica: tardes de autógrafos lotadas, artistas populares, fãs enlouquecidos e fábricas de vinil a pleno vapor. Os LPs vendiam na casa dos milhões e os discos brilhavam a prata, ouro, diamante e platina.
O destino dos discos, porém, começava a ser traçado já naquela época, com o surgimento do CD. Dados da Associação Brasileira de Produtores de Disco mostram que, em 1997, não fazia mais sentido contar os discos vendidos. O vinil virou artigo de colecionador, mas ainda havia quem quisesse investir nele. “Na vida, você se apaixona por alguma coisa, comigo foi o vinil”, afirmou o então empresário da Polysom Nilton Rocha em 2001.
Até então, a fábrica de vinis da empresa, em Belford Roxo, na região metropolitana do Rio, pertencia a um pastor e só produzia discos de música gospel. Mesmo com muita fé, a indústria chegava ao fim da linha. Mas Nilton Rocha se interessou pelo negócio e, para recompor máquinas combalidas pelo tempo, percorreu outras fábricas também com os dias contados e comprou maquinário que ia virar sucata.
Tocar o negócio era difícil e, para sobreviver, a empresa flertou com ramos bem distintos: passou a vender também artigos de plástico. Mas nem as bugigangas salvaram a Polysom, que fechou em 2007. “Quando a fábrica faliu, foi uma perda muito grande não só para nós, mas para todo o mundo independente”, diz o presidente da Deckdisc e consultor da Polysom João Augusto.
Por insistência do filho Rafael, que é produtor, João Augusto decidiu comprar a empresa. “A fábrica estava completamente falida e os equipamentos todos destruídos. Tivemos que fazer reforma na estrutura do prédio e nos equipamentos, que foram praticamente zerados e refeitos”, lembra.
O antigo dono, Nilton Rocha, voltou para a fábrica, agora como peça fundamental na manutenção, e a empresa se estabeleceu como a única fábrica de vinis da América Latina. O faturamento, de cerca de R$ 100 mil por mês, ainda é pequeno e foi apenas no ano passado que a empresa deu lucro pela primeira vez.
“Observamos um crescimento significativo de 2010 para 2011 e um salto muito grande de 2011 para 2012, com cinco vezes o volume de produção. Hoje, temos uma produção mensal em torno de seis mil unidades”, destaca o gerente industrial Luciano Barreira.
DJ que comanda festas no Rio, Sir Dema coleciona em um quarto de oito a dez mil discos. “Meu foco é vinil. Não desprezo novas tecnologias, acho todas elas importantes, mas vinil tem charme”, diz. Ele conta que o LP equilibra melhor os graves, médios e agudos, sem distorcer a qualidade.
O debate sobre a qualidade do vinil e do CD é antigo. Amantes do disco dizem que nenhum CD poderia igualar o grave. O coordenador do curso de produção fonográfica da Estácio de Sá, Mayrton Bahia, desfaz o mito: “Não é a mídia que faz essa diferença toda, é o processo. O que chega no ouvido do consumidor é o trabalho do masterizador”, explica.
Com seu segundo vinil previsto para ser lançado em maio, BNegão buscou um caminho diferente para a prensagem: um selo com sede na Inglaterra e filial em Belo Horizonte, que prensa em fábricas na Europa. “A Polysom está mandando bem, espero que consiga chegar nessa equação de preço, mas é mais barato realmente fazer lá fora”, aponta o cantor e compositor.
No caso dele, o LP que custou cerca de R$ 12 sairia por R$ 25 na Polysom. Mas isso não quer dizer que o preço para o consumidor será mais barato caso o vinil seja feito na Europa, pois é preciso calcular frete e taxas. O vinil de Tulipa Ruiz, que é do mesmo selo de BNegão, é vendido por até R$ 94. Luciano Barreira destaca que a maioria dos insumos é importada por empresas que distribuem no Brasil. “O custo de importação é muito alto, as matérias-primas chegam aqui com custo muito elevado”, afirma o gerente industrial.
O álbum recordista nas lojas é uma reedição de ‘Tábua de esmeralda’, de Jorge Benjor. Foram dois mil LPs. O relançamento de clássicos, em parceria com as antigas gravadoras, é parte da estratégia para esquentar o mercado de vinil.
E a empresa vê futuro em tiragens ainda menores. “Entendemos como mais promissor a venda por encomenda, para artistas independentes. Nosso pedido mínimo são de 300 discos. Comparando com o passado, não é quase nada”, diz Barreira.
Não há dados sobre a venda de vinis no Brasil e a Polysom trabalha com estimativas a partir das vendas no exterior. Se a tendência observada nos Estados Unidos – de crescimento anual de 40% – valer por aqui, há motivo para otimismo. Lá, a venda de LPs, mídia criada na década de 40, cresceu mais do que a de arquivos em MP3.
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