Ringo Starr: hippie e antenado

Jotabê Medeiros - Cidade do México *

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Por Redação
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Ringo se veste como Ringo: paletó, camiseta, calça jeans, tênis e um cinto de fivelão. Todo de preto. À bateria, ainda balança a cabeça daquele jeito de quem parece que está tirando água do ouvido, um movimento contra a batida, como nos tempos do filme Os Reis do Iê Iê Iê.

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O cabelo sempre muito curto, do mesmo tamanho da barba, lembra personagem de quadrinhos - e ele tem uma piada sempre na ponta da língua. Um jornalista mexicano quis saber o que ele se lembrava com mais precisão do México, que já visitou outras vezes.

"A tequila", brincou, antes de revelar que o país lhe trazia as melhores lembranças - contou que foi aqui, em Durango e na Cidade do México, em 1981, durante as filmagens de O Homem das Cavernas, que ele conheceu e se uniu à sua atual mulher, a atriz Barbara Bach (que o acompanhará ao Brasil), e elogiou a magia e o clima romântico do país.

Aos 71 anos, Richard Starkey, o Ringo, é um gentleman clássico. E orgulha-se de seu ideário ainda hippie. "Acredito em paz e amor. Se você olhar o que está acontecendo no Oriente Médio, está todo mundo fazendo isso (faz o gesto de Paz & Amor com os dedos). É louco. Era um sonho que tínhamos nos anos 60, e ainda é um sonho meu. Que o mundo possa, por um momento, viver em paz. Pode levar milhares de anos, e o que vemos agora é muita violência. Mas isso pode mudar. Com o tempo", disse Ringo, respondendo à pergunta sobre a Primavera Árabe e a canção pacifista que fez, Peace Dream (que está no seu disco do ano passado, Y Not).

Ringo recebeu com simpatia a imprensa no Auditório Nacional da Cidade do México, em concorrida entrevista coletiva na noite de segunda-feira, mas tem lá suas excentricidades: exigiu que a imprensa ficasse quatro fileiras de poltrona de distância do palco. Pode ter a ver com o fato de que é meio hipocondríaco?

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De lá de cima, Ringo apresentou os integrantes da All Starr Band, que excursiona com ele pela primeira vez à América do Sul: Wally Palmar, Rick Derringer, Edgar Winter, Gary Wright, Richard Page, Mark Rivera e Gregg Bissonette.

 Foto: Estadão

Juntos, eles tocaram quatro canções, num aquecimento para o show que realizariam ontem à noite no mesmo local: Boys (cantada por Ringo, à bateria), Broken Wings (megahit de rádio da banda Mr. Mister, cantada pelo seu líder, Richard Page), Free Ride (cantada por Edgar Winter) e, enfim, aquela com a qual Ringo brincou - "Se vocês não conhecem essa, não há motivo para estarem aqui": With a Little Help from My Friends, dos Beatles, a banda que ele integrou durante 8 anos na década de 1960 e que lhe conferiu a eternidade.

"Essa é a primeira parada. Se fizermos direito aqui, vocês vão querer nos ver de novo", explicou o ex-beatle, sacaneando, de leve, os jornalistas brasileiros. "Por que está aqui? Eu estou indo para lá na semana que vem", indagou ao repórter do Grupo Estado.

Ringo fará 7 shows no País - sendo dias 12 e 13 de novembro, em São Paulo. Disse que Paul McCartney sempre lhe fala sobre o Rio de Janeiro, e o baterista deve trazer sua mulher, Barbara (revelada no cinema como Bond Girl no filme 007 - O Espião que me Amava), para conhecer o País.

Possuído pelo demônio

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Ringo também falou sobre seu estilo e a influência do fato de ser canhoto. "Há muitas coisas que faço direito com minha mão direita, e isso porque minha avó achava que eu estava possuído pelo demônio e me obrigava a usar a mão direita", contou.

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Comparando seu jeito de tocar com o de Gregg Bissonette (sim, há duas baterias no show), ele disse que hoje acha interessante ter desenvolvido uma batida de canhoto, porque acaba se tornando complementar. "Quando era adolescente, eu não sabia fazer nada melhor do que aquilo. Olhei a bateria e disse: 'Uh, bateria!'. Então aquele se tornou meu estilo", contou.

Sobre novos artistas, Ringo disse que recorre bastante ao iTunes, ouve muitos novatos, mas apontou apenas um talento emergente: a cantora irlandesa EG Kight.

O baterista elogiou as novas tecnologias da música, que definiu como "maravilhosas" e capazes de facilitar o trabalho dos músicos em estúdios e turnês, embora se diga um sujeito old fashion, que ainda ouve discos de vinil e CDs - e ao dizer essa palavra, fez um sorriso de ironia. "Creio que, se tivéssemos tido no passado a tecnologia que existe hoje, os Beatles ainda estariam em turnê", afirmou.

Da banda de Ringo, só o tecladista e cantor texano Edgar Winter (albino como seu irmão, o guitarrista Johnny Winter) falou. Abordou o fato de ter sido o primeiro a usar o sintetizador como instrumento em uma canção, Frankenstein.

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"Eu estava muito frustrado tocando teclado lá atrás. Ninguém ouvia o que eu fazia", contou o músico. "Muita gente me acusou de promover o sintetizador, que faria as pessoas usarem máquinas em vez de músicos. Disseram que eu estava desumanizando a música. Acredito que o sintetizador é um dos instrumentos mais humanos, por causa de sua flexibilidade. Você pode fazê-lo soar como qualquer coisa. Para mim, ele significa liberdade", disse ele. 

* O repórter viajou à Cidade do México a convite da T4F

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