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Retrato mais do que completo de Miles Davis

Roberto Nascimento

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Por Redação
Atualização:

Fãs de Miles Davis nunca tiveram do que reclamar. Além de uma obra eternamente vibrante, que sintetiza como nenhuma outra a progressão vertiginosa de quatro décadas de música improvisada, Miles deixou material suficiente para reafirmar seu status de padroeiro do jazz contemporâneo por um bom tempo depois de sua morte.

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É o caso de registros ao vivo como Live at the Plugged Nickel e dos relançamentos de Kind of Blue, Bitches Brew e outros diamantes revigorados por takes alternativos, bem depois de terem virado clássicos.

Por causa da generosa quantidade de material, a safra continua boa 20 anos depois de sua morte. E lançamentos como o recente Miles Davis Quintet Live in Europe 1967, disco ao vivo com raridades, surgem de tempos em tempos para nos lembrar que a visão de Miles praticamente ditou os moldes jazzísticos atuais.

"Ainda estamos tentando compreender a música de Miles", conta Ron Carter, um dos grandes baixistas da história, por telefone ao Estado. Carter tocou com Miles de 1963 a 1968, formando, com Herbie Hancock, Tony Williams e Wayne Shorter, uma das duas bandas mais influentes do jazz moderno (a outra foi o quarteto de John Coltrane).

Os discos do grupo, Seven Steps to Heaven, My Funny Valentine, E.S.P, Nefertiti e o próprio Live at the Plugged Nickel, entre outros, são tidos como textos sagrados por instrumentistas aspirantes.

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"Quando eu o conheci, ele já era uma lenda. Tinha mudado os caminhos da música duas vezes e estava numa banda com quatro músicos que tinham um ponto de vista inovador, do qual ele estava ciente, mas sobre qual ainda não havia se pronunciado. Isto deu equilíbrio ao time. Nós aprendíamos com ele e ele aprendia conosco", conta Carter, que vem ao Brasil esta semana para shows de inauguração da mostra Queremos Miles, no Sesc Pinheiros.

A exposição é um passeio lúdico por todas as fases da carreira de Miles, do bebop, às parcerias com Gil Evans, às fusões dos anos 70 e 80. Busca jogar um facho de luz no gênio mais misterioso do século 20 com filmes, quadros, instrumentos e áudio. E tem sido elogiada tanto por leigos quando por conhecedores do assunto.

 Foto: Estadão

Quando indagado pela reportagem sobre a aura de Miles, que na época do quinteto foi apelidado de Prince of Darkness (nome de uma excelente composição de Wayne Shorter, por sinal), Carter revela: "Ele era humilde, cara. Não tem como você ser tão genial assim sem ter a humildade de aprender com outras pessoas. O que as pessoas veem é bem diferente da minha história. Ele era meu amigo. Morávamos a quatro quarteirões de distância. Quando me despedi da banda, porque queria ficar em Nova York, ver meus filhos crescerem, dei um abração nele e continuamos amigos até o fim".

A exposição, que foi importada do Citeé de la Musique, de Paris, já esteve no Rio e entra em cartaz para o público em geral nesta quinta-feira, dia 20, no Sesc Pinheiros. O quarteto de Ron Carter se apresenta sexta e sábado, às 21 h, e domingo às 18 h. Além do disco (disponível apenas pela Amazon.com), e da mostra, o livro Kind of Blue - Miles Davis e o Álbum que Reinventou a Música Moderna, de Richard Williams, ganha uma tradução pela editora Casa da Palavra. Trata-se de mais uma das obras que discorrem sobre o disco de jazz mais vendido da história.

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