Como o próprio Electric Lady Studios, a reunião foi um ótimo exemplo de grandes celebridades escondidas bem diante dos olhares de todos, repleta de nomes envolvidos na gravação de alguns dos álbuns mais famosos e festejados dos últimos 40 anos, mas cuja participação e importância o grande público desconhece
AC/DC. Sentados ao lado de Kramer no Estúdio A, a subterrânea câmara principal do Electric Lady - que conserva as paredes arredondadas originais e o teto em espiral -, estavam Tony Platt, que em 1980 mixou Back in Black, do AC/DC, naquela sala; John Storyk, o arquiteto e perito em acústica que projetou o estúdio; e a dupla Robert Margouleff e Malcolm Cecil, os magos do sintetizador recrutados por Stevie Wonder no início da década de 1970.
Entre os cerca de 80 profissionais da música presentes no encontro, estes nomes famosos entre poucos ofuscaram dois outros participantes mais conhecidos do grande público: Lenny Kaye, guitarrista do Patti Smith Group, e Janie Hendrix, meia-irmã de Jimi.
Com o sentimentalismo e a precisão dignos de engenheiros de som de longas carreiras, eles contaram histórias de guerra no front do estúdio (o amplificador de Jimi ficava ali, junto à parede; o baterista de Stevie gostava de se instalar daquele lado); extraíram suspiros da plateia com uma apresentação de fotos retratando antigos consoles de mixagem; e tentaram determinar qual era o aspecto do Electric Lady que conferia ao estúdio sua atmosfera única. O espírito de seu fundador foi citado mais de uma vez, bem como a mistura entre tecnologia e clima convidativo.
Keith Richards. "Todos os estúdios que vemos hoje partem do princípio de oferecer um ambiente amigável para a produção da arte", disse Margouleff, contendo as lágrimas. "Esta foi uma das principais invenções do Electric Lady." Para muitos artistas, o estúdio de Hendrix se tornou um segundo lar.
A porta para o banheiro do andar de cima tem um pequeno buraco, grande o bastante para acomodar um cabo nos momentos em que Keith Richards quisesse editar suas sequências de guitarra na privacidade mais reservada possível. Para Jimmy Page, o toque pessoal de Hendrix e Kramer fez toda a diferença quando o Led Zeppelin trabalhou na mixagem de Houses of the Holy naquele estúdio, em 1972.
"Eddie Kramer era um engenheiro de som excelente", afirmou Page em entrevista concedida pelo telefone. "Para trabalhar num estúdio que levaria o nome de Hendrix, ele garantiu que o lugar fosse atraente e dotado de uma boa acústica, para que os músicos quisessem tocar naquele cômodo."
Mas, no universo dos estúdios de gravação, no qual tempo é dinheiro e a inspiração precisa fluir ao longo de repetidas tomadas, até fatores intangíveis como o clima têm uma função específica, e os princípios por trás do projeto do Electric Lady se tornaram populares atualmente.
Storyk explicou que, além do clima e da iluminação, Hendrix fez pedidos que representaram mudanças visionárias para a arquitetura dos estúdios, como salas de controle grandes o bastante para acomodar simultaneamente artistas e engenheiros de som, possibilitando que trabalhassem juntos com mais conforto.
Tais planos, somados a complicações como o lençol freático muito próximo do subsolo do edifício, significaram um processo de construção prolongado e caro.
O alvará original de construção do estúdio emitido pela prefeitura de Nova York estima o custo da obra em US$ 125 mil, mas Storyk lembra que o valor final chegou a US$ 1 milhão. Depois de projetar o Electric Lady, aos 22 anos, Storyk foi o responsável pela arquitetura de muitos estúdios e casas de espetáculo espalhados pelo mundo.
"Era a primeira vez que um artista construía um estúdio. Isso estava ocorrendo em alguns casos isolados pelo mundo, mas nenhum daqueles projetos era tão famoso quanto o de Jimi", revelou Storyk. As inovações do Electric Lady com vista a um melhor aproveitamento por parte do artista - acompanhadas pela mística de Hendrix - ajudaram o estúdio a sobreviver a uma era em que as grandes instalações multifuncionais de gravação cedem espaço para salas menores e de foco mais definido.
Clapton. Ecoando o seu modelo, muitos estúdios novos, como o Roc the Mic, de Jay-Z, em Manhattan (projetado por Storyk), são criados para atender às necessidades específicas de um músico. Entre os artistas que gravaram recentemente no Electric Lady estão Eric Clapton, Coldplay, Rihanna, The Strokes e Sheryl Crow. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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Aproveite e ouça o programa-podcast Combate Rock nº 2, produzido pela equipe do blog Combate Rock, que analisa e reverencia a trajetória do guitarrista Jimi Hendrix, que morreu há 40 anos.