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Quando a viola caipira encontra o metal, agora em DVD

Marcelo Moreira

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Por Redação
Atualização:

Em uma quente quarta-feira qualquer do outono de 2012, dois violeiros transformaram o solar de uma imponente livraria paulistana em uma improvisada e mágica sala de concerto. Com a mesma imponência com que pareciam executar intrincadas peças de Niccolo Paganini ou Andrés Segovia, executavam algumas das mais importantes músicas do rock e do heavy metal dos últimos 40 anos.

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Zé Hélder e Ricardo Vignini foram além do que qualquer outro músico foi ao transpor o rock pesado para a música instrumental dos violões e guitarras acústicas.

Revezando-se nas violas, violões de 12 cordas e violas caipiras, proporcionaram um espetáculo de rara beleza e sensibilidade na apresentação concorrida e gratuita ocorrida na Fnac do bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.

Os dois instrumentistas criaram a dupla Moda de Rock, onde fundiram o rock com o mundo da viola caipira e do instrumental brasileiro de raiz. A parceria deu tão certo que os convites para tocar no exterior não param. Já estiveram recentemente nos Estados Unidos e na França, onde tocaram em casas cheias e foram ovacionados.

O primeiro CD, "Moda de Rock - Viola Extrema", foi lançado no ano passado de forma independente e chamou a atenção da crítica especializada, mas ainda não tinha sido o suficiente para transformá-los em músicos cobiçados. A história deve mudar com o mais novo lançamento, "Moda de Rock - Ao Vivo Viola Extrema", o primeiro DVD da dupla.

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O repertório roqueiro do CD foi expandido para músicas do cancioneiro caipira/folk/popular das carreiras individuais dos dois músicos, além de canções de autores de várias tendências musicais. Foram dois shows gravados em 2011, um no Sesc Pompéia (21 de abril) e outro no Sesc Pinheiros (17 de julho), que contaram com as participações especiais de Pepeu Gomes, Kiko Loureiro (guitarrista da banda de heavy metal Angra) e do grupo Favoritos do Catira.

No palco é que fica impressionante o "tamanho" do som que eles tiram de seus violões e violas. No pocket show da Fnac não foi necessário abusar da potência e da amplificação para preencher toda a sala com timbres cristalinos e fraseados criativos.

Em um show maior, o som da dupla fica esplendoroso, assim como espanta a facilidade com que eles tocam temas de alta complexidade, comom o medley recheado de arranjos "5ª Sinfonia de Beethoven/Aqualung" - a segunda um clássico da banda inglesa de rock progressivo Jethro Tull.

"Moda de Rock" também acerta na distribuição do repertório, alternando obras-primas do heavy metal como "Aces High" (Iron Maiden) e "Masters of Puppets" (Metallica) com pérolas do progressivo ("In the Flesh", do Pink Floyd) e músicas importantes do folclore brasileiro ("Ecologia Brasileira") e da MPB, como "Preta Pretinha", dos Novos Baianos, e "Bilhete Para Didi", de Jorginho gomes, as duas com a participação de Pepeu Gomes tocando guitarra.

Por mais esquisito que possa parecer, há um medley chamado "Seleção de Pagodes", que nada mais do que é um apanhado da mais pura moda de viola brasileira, verdadeira música instrumental de raiz, com destaque para dois temas de Tião Carreiro - "Nove Nove" e "A Coisa Tá Feia".

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O mago Kiko Loureiro, que atualmente está com CD novo na praça, o instrumental "Sounds of Innocence", participa de forma brilhante nas músicas "Pau de Arara", de sua própria autoria, "Norwegian Wood", clássico dos Beatles, e no encerramento com "Ecologia Brasileira", ao lado dos Favoritos do Catira.

De extremo bom gosto, o DVD "Moda de Rock" é um dos grandes lançamentos do ano no Brasil, misturando ecletismo, virtuosismo e técnica extrema, tudo com muita competência.

E pensar que esse trabalho só chegou às lojas graças ao crowdfunding pelo site catarse.me, o mesmo da banda carioca de heavy metal Dorsal Atlântica. O crowdfunding é um modelo de negócio onde os fãs e apreciadores contribuem financeiramente para viabilizar CDs, DVDs e shows. O DVD tem 19 músicas, mas há uma versão reduzida, em áudio, à venda pelo iTunes.

 Foto: Estadão

Músicos experientes

Ricardo Vignini é violeiro, compositor, professor de música, produtos fonográfico e cultural e pesquisador de música tradicional. Seu gosto pela musica caipira veio através de parte de sua família, de Águas da Prata e São João da Boa Vista, e o lado italiano veio de Rio Claro.

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Nascido em São Paulo, durante sua adolescência tocou muita guitarra, muito rock e blues, fez parte da banda de rock Cheap Tequila. O violeiro também já tocou ao lado dos músicos americanos Bob Brozman e Woody Mann em suas turnês brasileiras, também tocou em duo com Christian Oynes e em participações com a banda Serio Duarte & Entidade Joe.

Ricardo também é proprietário de um estúdio caseiro, onde grava artistas, trilhas e campanhas publicitárias. Está no Matuto Moderno desde 200 e lançou nesse ano o seu primeiro CD solo, "Na Zoada do Arame", álbum totalmente instrumental.

Zé Helder também é violeiro e compositor, nasceu em Cachoeira de Minas/MG. Neto de violeiro, tem dois CDs solos lançados "A Montanha" (2004) e "No Oco do Bambu" (2009), e "Orelha de Pau" (2002), trabalho inspirado na música regional e caracterizado pela instrumentação acústica e coro de três vozes.

Formado em Licenciatura em Música, é professor de música há 11 anos e músico profissional há 19 anos. Criou o curso de viola caipira no Conservatório de Pouso Alegre (Cempa) e atualmente leciona o instrumento no Conservatório Municipal de Arte de Guarulhos.

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